Medicina / Ciências Médicas e da Saúde Dissertações de Mestrado
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Estudo prévio para a implantação de um programa de controlo de reprodução em canídeos
Autor:
Fernando Miguel da Costa Rodrigues
Mestrado em Saúde Pública Faculdade de Medicina
Universidade do Porto
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Resumo
O facto dos animais vadios constituírem um
perigo para a Saúde Pública implica que estes sejam sistematicamente
recolhidos da rua pelas Autarquias. Entregues aos milhares todos os anos
nos seus centros de recolha oficial (antigos canis municipais), não
existe posteriormente outra solução que não a sua eutanásia. Para mudar
este cenário pensa-se ser necessário a implantação de um programa de
controlo reprodutivo em canídeos a longo prazo através da sua
esterilização, conjuntamente com uma política de educação e
sensibilização sobre a actual situação de sobre-população animal. O
objectivo deste estudo, até quanto sabemos único em Portugal, foi
determinar a possibilidade de implantação de um programa de controlo
reprodutivo em canídeos, avaliando a disponibilidade da população para a
esterilização dos seus animais. Este trabalho permitirá decidir sobre a
forma de intervenção na população de risco, fazendo um diagnóstico da
situação actual da aceitação pelos proprietários da esterilização dos
seus animais. Devido à diminuição de risco de aparecimento de tumor
mamário conferida pela esterilização, foi paralelamente verificada a
prevalência desta patologia nesta amostra. No âmbito deste estudo foram
inquiridos 1219 proprietários de canídeos que tiveram acesso à campanha
oficial de vacinação antirrábica de 2006 e 197 pelas clínicas
veterinárias do Concelho, num total de 1416 questionários preenchidos.
Foi feita a avaliação clínica para diagnosticar nódulos sugestivos de
tumor mamário. Através dos inquéritos à população que frequentou a
campanha oficial os resultados não foram animadores, verificando-se uma
taxa baixa de animais esterilizados (4,9%), 1% nos machos e 10,5% nas
fêmeas. A esterilização não é um acto recorrente entre a população visto
que apenas 22,5% dos Munícipes a apoiam e reconhecem as suas vantagens.
A maioria dos entrevistados (48,6%) desconhece as suas vantagens e 28,9%
opõe-se à esterilização, principalmente por a considerar errada e
antinatural. A taxa mais elevada de esterilização de animais está
associada a um estrato social com rendimento médio-alto, com maior
instrução e com profissões mais especializadas. Pelo contrário, a menor
taxa de esterilização de animais e a maior percentagem de oposição à
esterilização relaciona-se com estratos sociais de menores recursos
financeiros e que habitam áreas rurais. Os factores de risco para a
subsistência e aumento do número de animais abandonados tais como a
alimentação de animais vadios e a falta do uso da trela pelos
proprietários persistem na população detentora de animais com uma
percentagem de 15,6% e 42,2%, respectivamente. A falha na recolha das
fezes pelos proprietários dos animais quando os passeiam na rua atinge
os 75,7%. Verificou-se que os proprietários de animais que atendem à
campanha oficial de vacinação apresentam menos recursos económicos e
menos instrução, assim como profissões menos especializadas do que
aqueles que escolhem preferencialmente as clínicas veterinárias
privadas. A prevalência de nódulos mamários foi estimada por palpação
das cadeias mamárias em todos os animais avaliados, 2,6% (n=33),
verificando-se estar estatisticamente associada aos factores sexo e
idade do animal. Verificou-se a ausência de nódulos mamários nos animais
esterilizados antes dos 3 anos de idade. Perante estes resultados,
parece-nos imprescindível o investimento em campanhas educativas de
promoção do controlo reprodutivo de forma a familiarizar a esterilização
junto dos proprietários de animais. Um incentivo à esterilização poderá
ser a diminuição do risco de desenvolver tumores mamários. O apoio
económico às classes de menor rendimento, ao nível da comparticipação da
esterilização, é igualmente necessário para possibilitar o acesso à
mesma por todos e no futuro ser possível alcançar o patamar de outros
países desenvolvidos ao nível do controlo da reprodução.
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