Resumo
Introdução: A dissecção aguda da
aorta do tipo A representa uma situação clínica catastrófica que requer
imediata intervenção cirúrgica. Este estudo visa determinar os
resultados operatórios e pesquisa de factores preditores de mortalidade
intra-hospitalar, assim como avaliar o prognóstico a longo prazo dos
doentes operados.
Métodos: Estudo retrospectivo de 126 doentes com idade média de
57,5 ± 12,9 anos, operados consecutivamente entre Janeiro de 1995 e
Dezembro de 2007 por dissecção aguda da aorta tipo A no CCTHSJ. Foram
avaliadas variáveis demográficas e clínicas pré-operatórias, variáveis
de técnica operatória, complicações pós-operatórias e resultados
clínicos. Foi realizada uma análise univariada seguida de regressão
logística multivariada no sentido de determinar factores preditores
independentes de mortalidade hospitalar. O follow-up foi realizado entre
Novembro de 2009 e Fevereiro de 2010, tendo sido completado em 97% dos
doentes.
Resultados: Em 57,2% (n= 72) foi possível apurar história prévia
de hipertensão arterial, dos quais 68% apresentavam hipertensão não
controlada na admissão. A mortalidade intra-operatória foi de 9,5%
(n=12). A mortalidade hospitalar foi de 30,9% (n= 39). A análise
univariada revelou que a valvulopatia prévia (p=0,011), a disfunção
ventricular esquerda à apresentação (p=0,01), a cirurgia cardíaca
anterior (p=0,05), a idade superior a 70 anos (p=0,048), a necessidade
de uso de paragem circulatória (p=0,013), as alterações da consciência
pré-cirúrgicas (p<0,001), o desenvolvimento de insuficiência renal aguda
(p<0,001), de hemorragia cirúrgica (p=0,004) e de isquemia periférica
(p=0,029) se encontram significativamente associados com a mortalidade.
A análise multivariada final dos resultados revelou que os factores de
risco independentes preditivos de mortalidade hospitalar foram a
valvulopatia prévia (p=0,004), a existência de disfunção ventricular
esquerda à apresentação (p=0,006), o tempo de clampagem da artéria aorta
(p=0,001), e a insuficiência renal aguda (p=0,002) e hemorragia
(p=0,013) pós-cirúrgicas. A sobrevivência global foi de 67,1%, 62%, 59%,
50,3% e 50,3% aos 1, 3, 5, 10 e 14 anos respectivamente, sendo o tempo
médio de sobrevivência de 8,29 ± 0,64 anos. Após reparação cirúrgica com
sucesso e alta hospitalar, a sobrevivência ajustada foi de 98,8%, 90,2%,
88,6%, 76,9% e 73,2% aos 1, 3, 5, 10 e 14 anos. A análise de regressão
de Cox revelou que a presença de valvulopatia prévia (p=0,003), a
presença de disfunção ventricular esquerda (p=0,001) e o desenvolvimento
de insuficiência renal aguda no pós-operatório (p<0,001) foram
preditores independentes estatisticamente significativos da mortalidade
global.
Conclusão: A dissecção aguda da
aorta é um evento trágico associado a uma elevada taxa de mortalidade. O
prognóstico após alta hospitalar é razoável. A medida de prevenção mais
importante é o controlo da HTA.
Palavras chave: aorta; cirurgia;
factores de risco; mortalidade
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