Resumo
Introdução: O consumo inadequado de
hortofrutícolas é considerado um dos principais factores de risco para o
desenvolvimento das doenças crónicas, principalmente doenças
cardiovasculares e alguns tipos de cancro. A Organização Mundial de
Saúde recomenda o consumo diário de pelo menos 400g de hortofrutícolas,
o equivalente a aproximadamente 5 porções destes alimentos. O
conhecimento dos determinantes do consumo de hortofrutícolas é essencial
para o planeamento de políticas alimentares, para o desenvolvimento de
medidas de educação alimentar e para o planeamento futuro de
investigação científica.
Objectivos: Descrever o consumo de hortofrutícolas e avaliar os
determinantes sociodemográficos e de estilos de vida do consumo de <5
porções/dia de hortofrutícolas em adultos Portugueses, recorrendo a
informações de um estudo de base populacional
(EPIPorto). Métodos: Foram incluídos 2362 indivíduos, 1455 (61,6%)
mulheres e 907 (38,4%) homens, com idades compreendidas entre os 18 e os
92 anos, residentes no Porto e recrutados por aleatorização de dígitos
telefónicos. As informações foram obtidas através de um questionário
estruturado. O consumo de hortofrutícolas foi estimado através de um
questionário semi-quantitativo de frequência alimentar, referente aos 12
meses anteriores à avaliação, previamente validado. Foram calculados os
odds ratio (OR) e os respectivos intervalos de confiança a 95% (IC 95%),
através de regressão logística não condicional, separadamente para
homens e mulheres.
Resultados: Em ambos os sexos, os itens sopa de legumes,
alface/agrião e tomate fresco contribuíram para cerca de 50% do consumo
médio semanal de hortícolas. Em relação à fruta, e em ambos os sexos, os
itens maça/pêra e laranja/tangerina representaram cerca de 50% do
consumo médio semanal. O consumo médio diário de hortícolas foi
significativamente superior em relação ao de fruta tanto para as
mulheres [3,4 (1,8) vs 2,3 (1,3) porções/dia, p<0,001] como para os
homens [3,2 (1,6) vs 2,1 (1,2) porções/dia, p<0,001]. As mulheres
reportaram consumos médios diários de hortofrutícolas significativamente
superiores aos dos homens [5,8 (2,4) vs 5,3 (2,2) porções/dia de
hortofrutícolas, p<0,001]. A proporção de consumidores de <5 porções/dia
de hortofrutícolas foi significativamente superior nos homens em relação
às mulheres (49,2 vs 42,2%, p=0,001). Após ajuste para a idade, a
escolaridade, o estado civil, os hábitos tabágicos, a actividade física
regular e a ingestão energética total, para ambos os sexos, o consumo de
<5 porções/dia de hortofrutícolas associou-se inversamente com a idade
(≥65 vs 18-39 anos: OR=0,63 IC 95% 0,42-0,94 para as mulheres e OR=0,33
IC 95% 0,20-0,56 para os 2 homens), a escolaridade (>12 vs <5 anos:
OR=0,57 IC 95% 0,40-0,80 para as mulheres e OR=0,51 IC 95% 0,34-0,78
para os homens), a prática de actividade física regular (sim vs não:
OR=0,51 IC 95% 0,40-0,66 para as mulheres e OR=0,56 IC 95% 0,42-0,75
para os homens) e a ingestão energética total (3º vs 1º tercil: OR=0,23
IC 95% 0,18-0,31 para as mulheres e OR=0,24 IC 95% 0,17-0,35 para os
homens), e directamente com os hábitos tabágicos (fumadores vs não
fumadores: OR=1,86 IC 95% 1,35-2,56 para as mulheres e OR=2,05 IC 95%
1,43-2,94 para os homens) e a ingestão de etanol (≥15,0g/dia vs não
bebedores: OR=1,95 IC 95% 1,38-2,77 para as mulheres e ≥30,0g/dia vs não
bebedores: OR=4,40 IC 95% 2,70-7,18 para os homens). Segundo o mesmo
modelo, o consumo inadequado de hortofrutícolas associou-se directamente
com a profissão nas mulheres (manual vs não manual: OR=1,56 IC 95%
1,20-2,02) e com o estado civil nos homens (não casado vs casado:
OR=1,60, IC 95% 1,08-2,38).
Conclusões: Na população adulta da
cidade do Porto, o consumo médio diário de hortícolas foi superior em
relação à fruta e as mulheres reportaram consumos médios diários de
hortofrutícolas superiores em comparação com os homens. Em ambos os
sexos, ser mais novo, menos escolarizado, fumador, não praticante de
actividade física regular e bebedor de etanol foram os principiais
determinantes do consumo inadequado de hortofrutícolas. Ter profissões
não manuais, no caso das mulheres, e não ser casado, no caso dos homens,
mostrou-se igualmente determinante de um consumo inadequado destes
alimentos. As estratégias para aumentar o consumo de hortofrutícolas,
para além de incluir grupos de indivíduos com consumos inadequados
destes alimentos, devem promover a adopção de estilos de vida saudáveis
de forma integrada.
Índice
Resumo
Abstract
Introdução
Definição de hortofrutícolas
Consumo de hortofrutícolas
Determinantes do consumo de
hortofrutícolas
Objectivos
Métodos
Selecção da amostra
Recolha de informação
Consumo alimentar
Características socio-demográficas e de
estilos de vida
Avaliação antropométrica
Ética
Análise estatística
Resultados
Discussão
Conclusões
Referências bibliográficas
Anexos
Trabalho completo