Medicina / Ciências Médicas e da Saúde

Dissertações de Mestrado

 

Determinantes sociais na escolha do local do parto e na duração do aleitamento materno na Geração XXI

 

Autor: Márcia Manuela Magalhães Salgado Pereira
Orientador: Susana Silva, Elisabete Pinto

 

Mestrado em Saúde Pública

Faculdade de Medicina

Universidade do Porto
 

 

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Determinantes sociais na escolha do local do parto e na duração do aleitamento materno na Geração XXI

Resumo

Introdução: Escolher adequadamente o local do parto e amamentar as crianças nos 6 primeiros meses de vida têm-se transformado em medidas da maternidade, ou seja, em assuntos sujeitos ao escrutínio e intervenção públicas com o objectivo de enunciar os comportamentos e as decisões de saúde que supostamente classificam a boa maternidade. No entanto, as campanhas de saúde pública exclusivamente focalizadas na tentativa de influenciar as escolhas individuais afiguram-se como insuficientes no combate às iniquidades sociais em saúde, sobretudo porque tendem a não avaliare/ou intervir sobre a posição social dos cidadãos, a qual pode condicionar as suas
possibilidades de escolha. De facto, a evidência científica continua a revelar diversas desigualdades no acesso aos serviços e na qualidade dos cuidados de saúde prestados às puérperas, de acordo com a classe social, o rendimento, a escolaridade e a idade das mesmas.
Objectivos: Este estudo tinha dois objectivos principais: (1) identificar as características socio-demográficas e obstétricas que determinam o recurso a maternidades fora da área geográfica de influência hospitalar, definida pela residência da mãe; (2) identificar as características socio-demográficas que determinam a duração de qualquer tipo de aleitamento materno e de aleitamento materno predominante.
Participantes e Métodos: A análise baseia-se na Geração XXI, a primeira coorte de recém-nascidos portuguesa, de base populacional, reunida maioritariamente nas primeiras 24 a 72 horas após o parto. A Geração XXI foi constituída nos cinco hospitais públicos do Grande Porto onde ocorriam partos, entre Abril de 2005 e Agosto de 2006. O primeiro manuscrito baseou-se em 5563 mulheres com informação disponível para todas as variáveis consideradas, resultantes do questionário aplicado às mães no momento do nascimento. No segundo manuscrito a análise baseou-se na sub-amostra de crianças avaliadas aos 2 anos de idade (n=794). A coincidência entre o local de residência da mãe e a área geográfica de influência da maternidade foi 2avaliada. Definiu-se aleitamento materno como o alimento das crianças com leite materno em exclusivo ou combinado com outros tipos de leite ou outros alimentos; e aleitamento materno predominante como alimentação exclusiva do bebé com leite materno, podendo ser dadas outras bebidas não nutritivas como águas ou chás, mas nunca outro tipo de leites ou outros alimentos. Para comparação de proporções foi utilizado o teste de qui-quadrado ou teste exacto de Fisher. A comparação de médias foi feita através do teste de Kruskal-Wallis. Quantificou-se a associação entre variáveis através de regressão logística multivariada. A regressão de Cox foi utilizada para quantificar o efeito das características maternas no risco de deixar de amamentar. Foram construídas curvas de Kaplan-Meier para ilustrar a probabilidade de manutenção do aleitamento materno. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados através do programa SPSS, versão 17.0.
Resultados: Globalmente 39% dos partos ocorreram fora da área geográfica de influência hospitalar. Após ajuste para os principais confundidores, a vigilância da gravidez no sector privado (OR=2,68; IC95% 2,33-3,09), ter mais de 12 anos de escolaridade (OR=1,85; IC95% 1,59-2,16) e ser trabalhadora independente (OR=1,58; IC95% 1,08-2,32) associaram-se positivamente à ocorrência de partos em hospitais fora da área de referenciação hospitalar. A maioria das mulheres (94%) amamentaram e 88% fizeram-no predominantemente. A mediana da duração de qualquer aleitamento materno foi de 6 meses e de 3 meses para o aleitamento materno predominante. As proporções elevadas de iniciação do aleitamento materno (94%) desceram para 57%, 38% e 15% a partir dos 4, 6 e 12 meses, respectivamente. A partir do quinto mês 13% das mulheres praticavam o aleitamento materno predominante. Mães jovens (<25 anos) e menos escolarizadas (<6 anos de escolaridade) têm menor probabilidade de amamentar predominantemente (p=0,010 e p=0,050, respectivamente). O abandono do aleitamento predominante verificou-se de forma marcada aos 4 meses, coincidindocom o fim da licença de maternidade.
Conclusões: A hierarquização do espaço social portuense repercute-se na reprodução de iniquidades sociais no acesso a maternidades públicas e na prevalência e duração do aleitamento materno. É necessário promover a equidade no acesso a maternidades públicas e o aleitamento materno, especialmente nas mulheres mais novas e menos escolarizadas.

 

Índice

Resumo
Abstract

Introdução
Objectivos
Participantes e Métodos
Resultados e discussão

1. Escolha e equidade na gestão do local do parto
2. Determinantes sociais do aleitamento materno

Conclusão
Referências

 

 

Trabalho completo