Resumo
Introdução: Escolher adequadamente
o local do parto e amamentar as crianças nos 6 primeiros meses de vida
têm-se transformado em medidas da maternidade, ou seja, em assuntos
sujeitos ao escrutínio e intervenção públicas com o objectivo de
enunciar os comportamentos e as decisões de saúde que supostamente
classificam a boa maternidade. No entanto, as campanhas de saúde pública
exclusivamente focalizadas na tentativa de influenciar as escolhas
individuais afiguram-se como insuficientes no combate às iniquidades
sociais em saúde, sobretudo porque tendem a não avaliare/ou intervir
sobre a posição social dos cidadãos, a qual pode condicionar as suas
possibilidades de escolha. De facto, a evidência científica continua a
revelar diversas desigualdades no acesso aos serviços e na qualidade dos
cuidados de saúde prestados às puérperas, de acordo com a classe social,
o rendimento, a escolaridade e a idade das mesmas.
Objectivos: Este estudo tinha dois objectivos principais: (1)
identificar as características socio-demográficas e obstétricas que
determinam o recurso a maternidades fora da área geográfica de
influência hospitalar, definida pela residência da mãe; (2) identificar
as características socio-demográficas que determinam a duração de
qualquer tipo de aleitamento materno e de aleitamento materno
predominante.
Participantes e Métodos: A análise baseia-se na Geração XXI, a
primeira coorte de recém-nascidos portuguesa, de base populacional,
reunida maioritariamente nas primeiras 24 a 72 horas após o parto. A
Geração XXI foi constituída nos cinco hospitais públicos do Grande Porto
onde ocorriam partos, entre Abril de 2005 e Agosto de 2006. O primeiro
manuscrito baseou-se em 5563 mulheres com informação disponível para
todas as variáveis consideradas, resultantes do questionário aplicado às
mães no momento do nascimento. No segundo manuscrito a análise baseou-se
na sub-amostra de crianças avaliadas aos 2 anos de idade (n=794). A
coincidência entre o local de residência da mãe e a área geográfica de
influência da maternidade foi 2avaliada. Definiu-se aleitamento materno
como o alimento das crianças com leite materno em exclusivo ou combinado
com outros tipos de leite ou outros alimentos; e aleitamento materno
predominante como alimentação exclusiva do bebé com leite materno,
podendo ser dadas outras bebidas não nutritivas como águas ou chás, mas
nunca outro tipo de leites ou outros alimentos. Para comparação de
proporções foi utilizado o teste de qui-quadrado ou teste exacto de
Fisher. A comparação de médias foi feita através do teste de
Kruskal-Wallis. Quantificou-se a associação entre variáveis através de
regressão logística multivariada. A regressão de Cox foi utilizada para
quantificar o efeito das características maternas no risco de deixar de
amamentar. Foram construídas curvas de Kaplan-Meier para ilustrar a
probabilidade de manutenção do aleitamento materno. Todos os
procedimentos estatísticos foram realizados através do programa SPSS,
versão 17.0.
Resultados: Globalmente 39% dos partos ocorreram fora da área
geográfica de influência hospitalar. Após ajuste para os principais
confundidores, a vigilância da gravidez no sector privado (OR=2,68;
IC95% 2,33-3,09), ter mais de 12 anos de escolaridade (OR=1,85; IC95%
1,59-2,16) e ser trabalhadora independente (OR=1,58; IC95% 1,08-2,32)
associaram-se positivamente à ocorrência de partos em hospitais fora da
área de referenciação hospitalar. A maioria das mulheres (94%)
amamentaram e 88% fizeram-no predominantemente. A mediana da duração de
qualquer aleitamento materno foi de 6 meses e de 3 meses para o
aleitamento materno predominante. As proporções elevadas de iniciação do
aleitamento materno (94%) desceram para 57%, 38% e 15% a partir dos 4, 6
e 12 meses, respectivamente. A partir do quinto mês 13% das mulheres
praticavam o aleitamento materno predominante. Mães jovens (<25 anos) e
menos escolarizadas (<6 anos de escolaridade) têm menor probabilidade de
amamentar predominantemente (p=0,010 e p=0,050, respectivamente). O
abandono do aleitamento predominante verificou-se de forma marcada aos 4
meses, coincidindocom o fim da licença de maternidade.
Conclusões: A hierarquização do espaço social portuense
repercute-se na reprodução de iniquidades sociais no acesso a
maternidades públicas e na prevalência e duração do aleitamento materno.
É necessário promover a equidade no acesso a maternidades públicas e o
aleitamento materno, especialmente nas mulheres mais novas e menos
escolarizadas.
Índice
Resumo
Abstract
Introdução
Objectivos
Participantes e Métodos
Resultados e discussão
1. Escolha e equidade na gestão do local
do parto
2. Determinantes sociais do aleitamento materno
Conclusão
Referências
Trabalho completo