Resumo
INTRODUÇÃO: A anemia constitui um
dos problemas de saúde pública de maior magnitude no mundo, embora o seu
impacto seja maior nos países em desenvolvimento, também nos países
desenvolvidos alguns grupos da população são particularmente vulneráveis
a esta patologia e às suas consequências. A anemia é mais prevalente nas
crianças e adolescentes, sendo a deficiência de ferro a causa mais comum
de anemia. Diversas características têm sido estudadas como
determinantes de anemia nomeadamente a infecção por Helicobacter pylori
(H. pylori). A infecção pelo H. pylori é provavelmente a infecção mais
frequente em todo o mundo, e em Portugal a prevalência de indivíduos
infectados é particularmente elevada.
OBJECTIVOS: Avaliar a prevalência da anemia e descrever
parâmetros hematológicos em adolescentes de 13 anos, e identificar
factores associados à anemia, particularmente a associação com a
infecção por H. pylori.
PARTICIPANTES E MÉTODOS: Foi utilizada informação recolhida no
âmbito da coorte EPITeen – A Coorte de 1990. Foram avaliados os
adolescentes nascidos no ano de 1990 e que no ano lectivo de 2003/2004
estavam inscritos em escolas públicas e privadas da cidade do Porto. Foi
recolhida informação através de um questionário auto-aplicado,
preenchido em casa juntamente com os progenitores, essencialmente para
avaliar a história pessoal e familiar, de doenças e características da
família. Além do questionário foi efectuada uma avaliação física, no
qual os participantes foram medidos e pesados. Foi efectuada uma
colheita de sangue em jejum, que permitiu a avaliação dohemograma
(hemoglobina e índices corpusculares), ferro e pesquisa de anticorpos de
H.
pylori. Para definição da anemia utilizamos os parâmetros da Organização
Mundial de Saúde (OMS) com o valor de corte para a hemoglobina de <12
g/dL. Para a caracterização da infecção por H. pylori interpretamos os
resultados como negativos <16 RU/ml e positivos ≥16 RU/ml. Dos 2160
alunos que integram a coorte EPITeen, neste trabalho foram considerados
apenas os alunos com resultados de hemograma, o que corresponde a 1326
(61,4%). Para estimar a magnitude da associação entre a anemia e a
infecção por H. pylori foram utilizados Odds ratios (OR) e respectivos
intervalos de confiança a 95% (IC95%), caculados através de modelos de
regressão logística, com ajustamento para o sexo e escolaridade dos
pais.
RESULTADOS: Em ambos os sexos se verifica que, no geral, os
valores dos parâmetros do hemograma são menores nos adolescentes que
frequentam escolas públicas, que têm progenitores com menor escolaridade
e os que recorrem aos centros de saúde para os seus cuidados médicos.
Resultados semelhantes foram também observados para os valores de ferro.
De notar também que, para ambos os sexos, à medida que aumenta o índice
de massa corporal (IMC) os valores de ferro diminuem. A prevalência de
anemia foi de 2,6%, significativamente maior no sexo feminino do que no
sexo masculino (4,1% vs 1,0%, p=0,001). Os alunos das escolas públicas
apresentam uma percentagem de anemia superior aos das escolas privadas
(3,0% vs 1,5%) e nos filhos de pais com menor escolaridade. A
prevalência de adolescentes com resultado positivo para o H. pylori foi
66,4% (66,8% no sexo feminino e 63,7% no sexo masculino). Os
adolescentes inscritos nas escolas públicas apresentam uma maior
percentagem de resultado positivo para o H. pylori (68,7%) do que as
escolas privadas (59,4%). À medida que a escolaridade dos pais aumenta,
a prevalência de adolescentes com H. pylori diminui. Verificamos ainda
que a prevalência de infecção foi significativamente maior nos
adolescentes que recorrem a cuidados médicos nos centros de saúde, que
não tomaram suplementos vitamínicos no último ano, que referiam ter
faltado à escola no ano anterior à avaliação e referiam não praticar
desporto. Após ajuste para o sexo e escolaridade dos pais, nenhuma das
variáveis estudadas manteve uma associação com a infecção por H. pylori.
Entre os adolescentes com serologia positiva para o H. pylori a
prevalência de anemia é maior do que nos adolescentes com serologia
negativa, mas a diferença não é estatisticamente significativa (3,0% vs
2,1%, p=0,479). Após ajuste para o sexo e escolaridade dos pais, o
resultado da serologia para o H. pylori não se associou com a ocorrência
de anemia [OR=1,24 (IC95%: 0,56-2,73)].
CONCLUSÕES: A prevalência de anemia foi de 2,6%,
significativamente maior no sexo feminino do que no sexo masculino (4,1%
vs 1,0%). Embora sem atingir significado estatístico na associação com a
ocorrência de anemia, verificamos que os valores dos parâmetros do
hemograma são menores nos adolescentes de classes socioeconómicas mais
desfavorecidas. A prevalência de infecção por H. pylori foi alta
(66,4%), e embora se verifique uma associação positiva entre a serologia
do H. pylori e a ocorrência de anemia não é estatisticamente
significativa.
Índice
1. Resumo 1
2. Abstract 4
3. Introdução 7
3.1. Descrição da Anemia e da sua
Prevalência 7
3.1.1. Classificação das anemias 8
3.1.2. Causas da anemia 12
3.1.3.Consequências da anemia 15
3.1.4.Factores de risco de anemia ferropénica 17
3.2. Relação do Helicobacter Pylori com a
anemia 19
3.2.1. História e características do
H.pylori 19
3.2.2. Prevalência da Infecção por H. pylori 22
3.2.3. Infecção por H. pylori e a anemia por deficiência de ferro 25
4. Objectivos 28
5. Participantes e Métodos 29
5.1. Métodos de Colheitas de Dados 30
5.1.1.Questionários 30
5.1.2. Avaliação física e colheita de sangue 32
5.2. Participantes 34
5.3. Análise Estatística 36
6. Resultados 37
7. Discussão 51
8. Conclusões 58
9. Referências Bibliográficas
Trabalho completo