Medicina / Ciências Médicas e da Saúde

Dissertações de Mestrado

 

Anemia em adolescentes, prevalência e factores associados
O papel do Helicobacter pylori

 

Autor: Inês Cristina Marques Moreira
Orientador: Elisabete Ramos

 

Mestrado em Saúde Pública

Faculdade de Medicina

Universidade do Porto
 

 

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Anemia em adolescentes, prevalência e factores associados

Resumo

INTRODUÇÃO: A anemia constitui um dos problemas de saúde pública de maior magnitude no mundo, embora o seu impacto seja maior nos países em desenvolvimento, também nos países desenvolvidos alguns grupos da população são particularmente vulneráveis a esta patologia e às suas consequências. A anemia é mais prevalente nas crianças e adolescentes, sendo a deficiência de ferro a causa mais comum de anemia. Diversas características têm sido estudadas como determinantes de anemia nomeadamente a infecção por Helicobacter pylori (H. pylori). A infecção pelo H. pylori é provavelmente a infecção mais frequente em todo o mundo, e em Portugal a prevalência de indivíduos infectados é particularmente elevada.
OBJECTIVOS: Avaliar a prevalência da anemia e descrever parâmetros hematológicos em adolescentes de 13 anos, e identificar factores associados à anemia, particularmente a associação com a infecção por H. pylori.
PARTICIPANTES E MÉTODOS: Foi utilizada informação recolhida no âmbito da coorte EPITeen – A Coorte de 1990. Foram avaliados os adolescentes nascidos no ano de 1990 e que no ano lectivo de 2003/2004 estavam inscritos em escolas públicas e privadas da cidade do Porto. Foi recolhida informação através de um questionário auto-aplicado, preenchido em casa juntamente com os progenitores, essencialmente para avaliar a história pessoal e familiar, de doenças e características da família. Além do questionário foi efectuada uma avaliação física, no qual os participantes foram medidos e pesados. Foi efectuada uma colheita de sangue em jejum, que permitiu a avaliação dohemograma (hemoglobina e índices corpusculares), ferro e pesquisa de anticorpos de H.
pylori. Para definição da anemia utilizamos os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) com o valor de corte para a hemoglobina de <12 g/dL. Para a caracterização da infecção por H. pylori interpretamos os resultados como negativos <16 RU/ml e positivos ≥16 RU/ml. Dos 2160 alunos que integram a coorte EPITeen, neste trabalho foram considerados apenas os alunos com resultados de hemograma, o que corresponde a 1326 (61,4%). Para estimar a magnitude da associação entre a anemia e a infecção por H. pylori foram utilizados Odds ratios (OR) e respectivos intervalos de confiança a 95% (IC95%), caculados através de modelos de regressão logística, com ajustamento para o sexo e escolaridade dos pais.
RESULTADOS: Em ambos os sexos se verifica que, no geral, os valores dos parâmetros do hemograma são menores nos adolescentes que frequentam escolas públicas, que têm progenitores com menor escolaridade e os que recorrem aos centros de saúde para os seus cuidados médicos. Resultados semelhantes foram também observados para os valores de ferro. De notar também que, para ambos os sexos, à medida que aumenta o índice de massa corporal (IMC) os valores de ferro diminuem. A prevalência de anemia foi de 2,6%, significativamente maior no sexo feminino do que no sexo masculino (4,1% vs 1,0%, p=0,001). Os alunos das escolas públicas apresentam uma percentagem de anemia superior aos das escolas privadas (3,0% vs 1,5%) e nos filhos de pais com menor escolaridade. A prevalência de adolescentes com resultado positivo para o H. pylori foi 66,4% (66,8% no sexo feminino e 63,7% no sexo masculino). Os adolescentes inscritos nas escolas públicas apresentam uma maior percentagem de resultado positivo para o H. pylori (68,7%) do que as escolas privadas (59,4%). À medida que a escolaridade dos pais aumenta, a prevalência de adolescentes com H. pylori diminui. Verificamos ainda que a prevalência de infecção foi significativamente maior nos adolescentes que recorrem a cuidados médicos nos centros de saúde, que não tomaram suplementos vitamínicos no último ano, que referiam ter faltado à escola no ano anterior à avaliação e referiam não praticar desporto. Após ajuste para o sexo e escolaridade dos pais, nenhuma das variáveis estudadas manteve uma associação com a infecção por H. pylori. Entre os adolescentes com serologia positiva para o H. pylori a prevalência de anemia é maior do que nos adolescentes com serologia negativa, mas a diferença não é estatisticamente significativa (3,0% vs 2,1%, p=0,479). Após ajuste para o sexo e escolaridade dos pais, o resultado da serologia para o H. pylori não se associou com a ocorrência de anemia [OR=1,24 (IC95%: 0,56-2,73)].
CONCLUSÕES: A prevalência de anemia foi de 2,6%, significativamente maior no sexo feminino do que no sexo masculino (4,1% vs 1,0%). Embora sem atingir significado estatístico na associação com a ocorrência de anemia, verificamos que os valores dos parâmetros do hemograma são menores nos adolescentes de classes socioeconómicas mais desfavorecidas. A prevalência de infecção por H. pylori foi alta (66,4%), e embora se verifique uma associação positiva entre a serologia do H. pylori e a ocorrência de anemia não é estatisticamente significativa.

 

Índice

1. Resumo 1

2. Abstract 4

3. Introdução 7

3.1. Descrição da Anemia e da sua Prevalência 7

3.1.1. Classificação das anemias 8
3.1.2. Causas da anemia 12
3.1.3.Consequências da anemia 15
3.1.4.Factores de risco de anemia ferropénica 17

3.2. Relação do Helicobacter Pylori com a anemia 19

3.2.1. História e características do H.pylori 19
3.2.2. Prevalência da Infecção por H. pylori 22
3.2.3. Infecção por H. pylori e a anemia por deficiência de ferro 25

4. Objectivos 28

5. Participantes e Métodos 29

5.1. Métodos de Colheitas de Dados 30

5.1.1.Questionários 30
5.1.2. Avaliação física e colheita de sangue 32

5.2. Participantes 34

5.3. Análise Estatística 36

6. Resultados 37

7. Discussão 51
8. Conclusões 58

9. Referências Bibliográficas
 

 

Trabalho completo