Medicina / Ciências Médicas e da Saúde Dissertações de Mestrado
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Aleitamento Materno
Autor: Ana Catarina de Oliveira Antunes Cordeiro
Mestrado em Saúde Pública Faculdade de Medicina
Universidade do Porto
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Resumo A amamentação teve um papel fundamental na sobrevivência da espécie Humana. Mas, embora este seja o mais antigo processo de alimentar uma criança muito jovem, não tem sido sempre o mais usado. Até ao final do século XIX, as crianças de tenra idade eram, na sua grande maioria, amamentadas pelas suas mães, ou, na impossibilidade, a alternativa era o recurso a amas de leite. No entanto, após a II Guerra Mundial assistiu se a uma diminuição acentuada na prevalência do AM, intimamente relacionada com modificações profundas de ordem sócio-económica, cultural e sobretudo comportamental. Tanto na Europa como nos EUA, assistiu-se a um declínio na prática de AM que coincidiu com a profissionalização feminina e com a proliferação das indústrias produtoras de substitutos do leite materno. Muitos bebés passaram a ser alimentados com leite de vaca mais ou menos modificado. No início da segunda metade do séc. XX, a prevalência de AM atingiu os níveis mais baixos da história da Humanidade. A partir da década de 70, diversos movimentos surgiram com o intuito de inverter esta situação. Os valores de prevalência do AM têm vindo a subir desde então, ficando no entanto muito aquém dos valores preconizados por diversas instituições. De facto, a OMS e a UNICEF recomendam a amamentação exclusiva durante os primeiros 6 meses de vida, e continuadamente com introdução gradual de alimentos complementares até ao segundo ano de vida ou mais. Esta recomendação está no entanto longe de ser atingida. A Humanidade, de uma forma geral, reconhece nos dias de hoje que, uma nutrição adequada nos primeiros anos da vida de uma criança, bem como a aquisição de hábitos alimentares saudáveis, contribuem de forma decisiva e inequívoca para o bom estado de saúde da criança e para a prevenção de diversas patologias na idade adulta. Diversos estudos têm comprovado os benefícios do AM para a criança, para a mãe, para a economia (do país e das famílias) e para o ecossistema. Por esta razão, muitos países têm programas de promoção do aleitamento materno, onde se definem objectivos e metas a alançar. No entanto, para se traçarem metas, tem de se conhecer previamente o ponto de partida, pelo que se torna premente a realização de estudos para investigar as tendências da prevalência do AM e identificar as determinantes inerentes ao seu abandono precoce. Com o intuito de mostrar o panorama actual do AM na área de influência do HSJ, realizou-se um estudo descritivo de cariz prospectivo. Os objectivos deste estudo foram: determinar a prevalência de AM e AME à data de alta e ao 1º, 2º, 4º e 6º mês de vida do bebé; identificar factores que possam influenciar o abandono precoce do AM. Para tal, entrevistaram-se 200 puérperas à data de alta do internamento no HSJ, e seguiu-se a amostra durante 6 meses, realizando avaliações parcelares ao 1º, 2º, 4º e 6º meses de vida. A prevalência de AM à data de alta foi de 99,5%, sendo a prevalência de AME no mesmo período de 43%. A prevalência de uso de Substitutos de Leite Materno durante o internamento hospitalar foi de 57%. Do grupo de bebés pertencentes à amostra, 52,7% foram colocados à mama até há 1ªhora de vida. Das 131 puérperas seguidas durante o período de follow-up, a prevalência de AM foi de: 84,7% ao1º mês; 61,5% ao 2º mês; 34,4% ao 4º mês; 21,9% ao 6º mês. Em relação ao AME, a sua prevalência foi de: 54,2% ao 1º mês; 36,1% ao 2º mês; 25,7% ao 4º mês; 15,6% ao 6º mês. Quanto à prevalência do uso de Substitutos do Leite Materno foi de: 45,8% ao 1º mês; 64,1% ao 2º mês; 74,6% ao 4º mês; 84,6% ao 6º mês. Os principais factores identificados em associação com a duração do AM relacionados com a mãe foram: idade, estado civil, experiência de amamentação, percepção de leite insuficiente, alta materna prévia à alta do RN e uso de mamilo de silicone durante o internamento hospitalar. Os factores relacionados com o RN foram: o peso do RN, ter sido colocado à mama antes da 1ª hora de vida e uso de LA durante o 1º mês de vida. O tipo de parto não mostrou ter associação com a duração do AM, no entanto a introdução de LA tanto na 1ª mamada como durante o internamento hospitalar foi significativamente superior nos bebés nascidos por cesariana (p=0,003 e p=0,001 respectivamente). A informação fornecida às mulheres sobre AM durante o período de Vigilância Pré-Natal não mostrou ter influência significativa na duração do AM. A principal razão referida pelas mães para justificar o abandono do AM foi “deixou de ter leite ou tornou-se insuficiente” (65,5%). A introdução de LA na alimentação da criança ao longo dos primeiros 6 meses deu-se maioritariamente por indicação médica. A percentagem de mulheres encontrada neste estudo que iniciaram o AM revela-se como o valor mais alto de entre os estudos analisados neste trabalho, paradoxalmente, a prevalência de AME à data de alta é a mais baixa dentro desse grupo de investigações. Os resultados obtidos da prevalência ao 1º mês tanto no que se refere ao AM como ao AME são consideravelmente “bons” em comparação com os estudos analisados. Estes valores vão diminuindo progressivamente ao longo dos meses, até que ao 6º mês, a prevalência tanto do AM como do AME se encontra abaixo dos valores referidos por outros investigadores. A identificação dos valores de prevalência do AM e AME nos primeiros 6 meses de vida na população em estudo, bem como de factores que contribuem para o abandono precoce do AM, permitirá delinear estratégias de intervenção adequadas para melhorar as prevalências de AM e AME neste período da vida da criança.
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