Conceito de Linfócitos B
Os linfócitos B, também chamados de
células B, são uma população de células que expressa diversos recetores
de imunoglobulinas (Ig) que reconhecem específicos epítopos antigénicos.
A sua origem está intimamente relacionada com a imunidade adaptativa nos
vertebrados há mais de 500 milhões de anos. O desenvolvimento dos
linfócitos B compreendem diversas fases que começa num tecido linfoide
primário (como o fígado fetal e a medula fetal/adulta), com a
subsequente maturação funcional num tecido linfoide secundário (como os
nódulos linfáticos e o baço). No fim, a função destas células reside na
produção de anticorpos por parte de células plasmáticas diferenciadas. A
descoberta das células B não se originou a partir de uma descoberta de
um novo tipo de células, mas sim pela identificação de uma proteína (Ig
ou anticorpo). A identificação de gamaglobulinas séricas como a fonte de
anticorpos foi o ponto de partida para a eventual descoberta das células
produtoras de anticorpos. A partir do ano de 1948 sugeriu-se que as
células plasmáticas eram as responsáveis pela produção dos anticorpos.
Nesta altura foram sugeridas duas teorias sobre a formação de
anticorpos, a “seleção natural” e a “seleção clonal”, propostas por
Niels Jerne (1911 - 1994) e Sir Macfarlane Burnet (1899 - 1985),
respetivamente. Ambos ganhariam o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina
– Burnet em 1960 e Jerne em 1984. A estrutura química da molécula de
anticorpo foi elucidada por Gerald Edelman (1929 - 2014) e Rodney Porter
(1917 - 1985), que partilharam o prémio Nobel da Fisiologia e da
Medicina em 1972.
O que faz com que um linfócito seja uma
célula B?
Isto acontece através de um processo
sujeito a erros, que envolve o rearranjo combinatório dos segmentos
génicos V, D e J no locus da cadeia H e os segmentos génicos V e J dos
loci da cadeia L. Nos ratos e nos humanos isto ocorre primeiramente no
fígado fetal e na medula adulta, culminando no desenvolvimento de
diversos rearranjos funcional VJL e VDJH que codificam o recetor de
células B (BCR, do inglês “B cell receptor”). O desenvolvimento inicial
das células B é caraterizado por um rearranjo ordenando dos loci das
cadeias L e H da Ig e pela função regulatória das próprias Igs no
desenvolvimento das células B. Essencial para perceber como o
desenvolvimento das células B é regulado foi a descoberta das cadeias L
substitutas (SLCs, do inglês “surrogate L chains”). Originalmente
identificadas na linhagem de murina das células B, a SLC é um
heterodímero formado por 2 proteínas distintas designadas de λ5 e VpreB.
Estas proteínas emparelham com a cadeia µ H para formar o pre-BCR na
murina e nas células pre-B humanas. As células pre-B surgem das células
pro-B (progenitor) que não expressam na sua superfície o pre-BCR nem Ig.
A expressão do BCR é um requisito essencial para o desenvolvimento e
sobrevivência da célula B. O desenvolvimento dos linfócitos requerem a
ação concertada de várias citocinas e fatores de transcrição que regulam
de uma forma positiva e negativa a expressão génica. A interleucina 7
(IL-7) é uma citocina não redundante para o desenvolvimento das células
B da murina que promove o rearranjo DJ para o V e transmite sinais de
proliferação e de sobrevivência. O ligando FLT3 e o TSLP têm um papel
importante no desenvolvimento fetal das células B. Existem pelo menos 10
fatores de transcrição que regulam os estágios iniciais do
desenvolvimento das células B, como por exemplo o E2A, EBF e o Pax5, que
têm uma função importante na diferenciação das células B. O Pax5 regula
a expressão de pelo menos de 170 genes, muitos deles essenciais na
sinalização, adesão e migração de células B maduras.
A superfície das células B
Até aos anos oitenta, a arquitetura
molecular da superfície das células B restringia-se ao conhecimento de
substâncias membranares que se ligam às Ig, componentes de recetores
complementares e recetores Fc. Nos últimos 25 anos, cerca de 10
moléculas da superfície das células B foram identificadas por anticorpos
monoclonais. Com objetivo de se obter uma nomenclatura universal para
este campo criou-se a designação CD (do inglês “clusters of
differention”) para enumerar os diferentes componentes dos linfócitos. A
designação CD é agora universal e contempla uma descrição da molécula
que se quer analisar. Muitas destas moléculas regulam o desenvolvimento
e a função das células B, facilitam a comunicação com o ambiente
extracelular, ou fornecem o contexto celular para interpretar os sinais
do BCR.
- CD79a e CD79b são componentes associados
de uma forma não covalente ao complexo do BCR;
- CD19 é essencialmente expresso por toda
a linhagem das células B e regula a sinalização intracelular da tradução
através da amplificação da atividade da cinase da família da Src;
- CD20 é uma molécula específica da célula
B madura que funciona como um canal de cálcio membranar;
- CD21 é um recetor para o vírus
Epstein-Barr e C3d que interage com o CD19 para gerar sinais
transmembranares. Para além disto, consegue informar as células B sobre
as respostas inflamatórias num determinado microambiente;
- CD22 funciona como uma lectina mamífera
para o 2,6-ácido siálico que regula a sobrevivência das células B
foliculares;
- CD23 é um recetor de baixa afinidade
para o IgE, expresso pelas células B ativadas e que influencia a
produção de IgE;
- CD24 foi das primeiras moléculas a ser
identificada mas a sua função ainda permanece desconhecida;
- CD40 é um fator crítico para a
sobrevivência das células B do centro germinal e é um ligando para o
CD154 expresso pelas células T;
- CD72 funciona como um regulador negativo
de sinais de tradução e como um ligando das células B para o CD100.
Outros assuntos relacionados:
- Anticorpo
- Maturação dos linfócitos B
- Linfócito T
- Antigénio
- Complexo major de histocompatibilidade
- Imunidade adaptativa
- Citocina
- Fator de transcrição
- Sistema do complemento
|
Procure outros termos na nossa enciclopédia
|
A |
B |
C |
D |
E |
F |
G |
H |
I |
J |
K
| L |
M |
N |
O |
P |
Q |
R |
S |
T |
U |
V |
W |
X |
Y |
Z |
|
|