Ciências da Terra e da Vida

Biologia

Bactéria Helicobacter pylori

Autor: Sandra Alves

Mestre em Biomedicina Molecular

Data de criação: 17/03/2015

Resumo: Apresentação da Bactéria Helicobacter pylori...

Helicobacter pylori é um bacilo Gram-negativo, que possui uma forma helicoidal e pertence à família Enterobacteriaceae. (...)

Palavras chave:  biologia

 

Bactéria Helicobacter pylori

O agente infeccioso

Helicobacter pylori é um bacilo Gram-negativo, que possui uma forma helicoidal e pertence à família Enterobacteriaceae.

Esta pequena bactéria geralmente possui um cumprimento entre 2 a 4 μm e um diâmetro que varia entre 0,5 e 1 μm.

Possui um cromossoma circular e é envolvida por uma dupla membrana – uma membrana interna (citoplasmática); periplasma e uma membrana externa de fosfolipídios e LPS (lipopolissacarídeos).

Este organismo é considerado um patógeno extracelular capaz de colonizar a superfície da mucosa gástrica dos seres humanos. H. pylori normalmente apresenta entre 2 a 6 flagelos unipolares com cerca de 3 μm de comprimento cada, os quais são importantes para a rápida mobilidade da bactéria na mucosa gástrica.

É um patógeno microaerofílico (requer baixos níveis de oxigénio) e o seu ótimo crescimento ocorre na presença de 5 a 15% de oxigénio.

Em 1994, a Agência Internacional para Pesquisa no Cancro (AIPC), uma organização subordinada da Organização Mundial de Saúde (OMS), considerou esta bactéria um carcinogénio do tipo I, devido à sua íntima associação com o cancro gástrico.

 

Possíveis vias de transmissão

O modo de transmissão da infecção por H. pylori continua ainda pouco compreendido. Possíveis vias de transmissão propostas incluem: de pessoa para pessoa, por iatrogenia e por contacto com água contaminada.

Transmissão de uma pessoa para outra é o modo de transmissão mais provável, principalmente de pais para filhos ou de uma criança para outra, no entanto, ainda não se sabe exatamente como esta ocorre. Especula-se que seja via oral-oral ou via fecal-oral, sendo o primeiro caso o mais provável e que inclui possível transmissão através da saliva, placa dentária e refluxo do conteúdo gástrico ou vómito.

Outra via de transmissão proposta é de um paciente infectado para outro paciente, por exemplo, por meio do uso do mesmo material médico de diagnóstico, como o endoscópio, que se encontraria contaminado. No entanto, é de referir que apesar da transmissão nasocomial ser o único modo de transmissão comprovado, em termos quantitativos este é considerado insignificante.

Outra via de transmissão provável é através da água, devido a uma possível contaminação fecal.

Apesar de o único reservatório importante da H. pylori ser a mucosa gástrica humana, esta bactéria também já foi isolada a partir de primatas não - humanos e de gatos domésticos; contudo esta infecção é incomum e como tal não necessita ser considerado um problema de saúde público.

 

Epidemiologia

A infecção por H. pylori possui uma elevada prevalência, sendo que cerca de 50% da população mundial encontra-se infectada. É considerado um problema de saúde tanto nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos, possuindo uma prevalência de cerca de 70% e entre 30 e 40%, respectivamente.

A prevalência da infecção depende nomeadamente da área geográfica, raça, etnia, idade e condição socioeconómica. A bactéria H. pylori é geralmente adquirida na infância, sendo considerada a idade até aos 10 anos um fator de risco adicional. Para além disso, a infecção pode permanecer por décadas a não ser que seja tratada com esquemas terapêuticos que envolvem uma combinação de fármacos, incluindo antibióticos.

Contudo, a maioria das pessoas infectadas por H. pylori não desenvolve sintomas desta colonização. Apenas 15 a 20% dos indivíduos infectados desenvolvem problemas clínicos mais severos, como úlceras gastroduodenais, linfoma MALT ou cancro gástrico. Pensa-se que o risco da infecção evoluir para doenças mais severas deve-se a uma combinação de fatores, como diferenças na susceptibilidade genética do hospedeiro a estirpes específicas da H. pylori, diferenças genéticas entre as estirpes da H. pylori e a fatores ambientais, como tabagismo, consumo de álcool, dieta e alto consumo de sal. Alguns estudos sugerem que dietas ricas em antioxidantes, frutas, vegetais e vitamina C possuem um efeito protetor contra o risco de infecção e desenvolvimento das doenças.

 

Doenças

Helicobacter pylori é etiologicamente associada a várias doenças gastroduodenais.

A infecção por H. pylori conduz sempre a uma inflamação da mucosa gástrica, sendo, inclusive, esta bactéria, o principal agente etiológico da gastrite superficial crónica (infiltrado celular de células imunes (mononucleares e polimorfonucleares) na mucosa gástrica).

Em cerca de 5% dos pacientes infectados com a bactéria, a gastrite pode evoluir para atrofia gástrica.

A infecção por H. pylori tem sido associada ao desenvolvimento da úlcera péptica (tanto duodenal como gástrica), sendo que pacientes infectados possuem um risco entre 10 a 20% de desenvolver ulceração. A infecção por este bacilo também tem sido associada a um aumento do risco de desenvolver adenocarcinoma gástrico, sendo que este ocorre entre 1 a 2% dos indivíduos infectados. Por último, a infecção por H. pylori também pode conduzir a um linfoma MALT (mucosa-associated lymphoid tissue), o qual ocorre em menos de 1% dos pacientes infectados.

 

Colonização e Fatores de virulência

A H. pylori possui a capacidade de colonizar a superfície do antro e do corpo do estômago, possuindo um tropismo para as junções intercelulares das células epiteliais gástricas.

H. pylori foi isolada pela primeira vez em 1982 por Warren e Marshall, contudo esta bactéria coloniza os seres humanos há pelo menos 58.000 anos e encontra-se muito bem adaptada para conseguir sobreviver na mucosa gástrica humana. Para além disso, erradicação espontânea desta bactéria do estômago humano é um evento raro.

Resumidamente, o mecanismo de colonização pela H. pylori envolve quatro principais etapas:

(1) penetração nas criptas das células epiteliais da superfície do estômago;

(2) adaptação ao ambiente;

(3) fixação às células epiteliais;

(4) inflamação da mucosa gástrica / aumento das espécies reativas de oxigénio (ERO) e nitrogénio (ERN), resultado numa gastrite crónica.

Após a exploração dos mecanismos de defesa do hospedeiro, o patógeno pode adquirir nutrientes e consequentemente replicar-se com sucesso.

A colonização da mucosa gástrica requer um complexo processo adaptativo. Neste contexto, as principais características que permitem a H. pylori desenvolver-se no estômago são:

· Mobilidade e penetração na camada de muco viscoso do estômago devido à presença de flagelos e da forma helicoidal, respectivamente;

· Capacidade para alterar o pH do estômago através da produção da enzima urease, a qual hidrolisa a ureia em amônia e dióxido de carbono, aumentando deste modo o pH no estômago e consequentemente protegendo a bactéria da acidez gástrica;

· Presença de adesinas bacterianas que permitem que a bactéria se ligue à superfície das células epiteliais, como as adesinas HpaA (H. pylori adhesion A); BabA (blood group antigen-binding adhesin); SabA (sialic acid binding adhesin) e OMPs (outer membrane proteins);

· Indução de uma resposta inflamatória, devido à presença de LPS na membrana externa, por exemplo;

· Produção de fatores de virulência, como por exemplo, as citotoxinas VacA (vacuolating cytotoxin A); CagA (cytotoxin associated gene A); CagPAI (CagA pathogenicity Island), CagE (cytotoxin associated gene B), IceA (induced by contact with epithelium) e HP-NAP (neutrophils-activating protein). A proteína CagA afeta a transdução de sinais nas células do hospedeiro e é associada com uma proeminente resposta inflamatória, com o rearranjo do citoesqueleto e com a presença de cagPAI (grupo de genes que codificam um sistema de secreção bacteriano). Já a citotoxina VacA é associada à formação de vacúolos em culturas celulares, disrupção de junções epiteliais, fragmentação das mitocôndrias e indução da apoptose na mucosa gástrica.

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Diagnóstico

Atualmente existem diversos métodos de diagnóstico comumente empregues para detectar a presença da bactéria H. pylori na mucosa gástrica. Estes podem ser considerados não invasivos ou invasivos quando baseados na biópsia endoscópica. No primeiro grupo incluem-se o teste de depuração respiratória com C13 (carbonon-13); a pesquisa de antígenos da H. pylori nas fezes e a sorologia que tem por base a presença de anticorpos IgG anti-H. pylori. Nos testes invasivos inclui-se o exame histológico, cultura e teste da urease na biópsia.

 

Referências / Para mais informações consultar:

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