Bactéria Helicobacter pylori
O agente infeccioso
Helicobacter pylori é um bacilo
Gram-negativo, que possui uma forma helicoidal e pertence à família
Enterobacteriaceae.
Esta pequena bactéria geralmente possui um
cumprimento entre 2 a 4 μm e um diâmetro que varia entre 0,5 e 1 μm.
Possui um cromossoma circular e é
envolvida por uma dupla membrana – uma membrana interna
(citoplasmática); periplasma e uma membrana externa de fosfolipídios e
LPS (lipopolissacarídeos).
Este organismo é considerado um patógeno
extracelular capaz de colonizar a superfície da mucosa gástrica dos
seres humanos. H. pylori normalmente apresenta entre 2 a 6
flagelos unipolares com cerca de 3 μm de comprimento cada, os quais são
importantes para a rápida mobilidade da bactéria na mucosa gástrica.
É um patógeno microaerofílico (requer
baixos níveis de oxigénio) e o seu ótimo crescimento ocorre na presença
de 5 a 15% de oxigénio.
Em 1994, a Agência Internacional para
Pesquisa no Cancro (AIPC), uma organização subordinada da Organização
Mundial de Saúde (OMS), considerou esta bactéria um carcinogénio do tipo
I, devido à sua íntima associação com o cancro gástrico.
Possíveis vias de transmissão
O modo de transmissão da infecção por
H. pylori continua ainda pouco compreendido. Possíveis vias de
transmissão propostas incluem: de pessoa para pessoa, por iatrogenia e
por contacto com água contaminada.
Transmissão de uma pessoa para outra é o
modo de transmissão mais provável, principalmente de pais para filhos ou
de uma criança para outra, no entanto, ainda não se sabe exatamente como
esta ocorre. Especula-se que seja via oral-oral ou via fecal-oral, sendo
o primeiro caso o mais provável e que inclui possível transmissão
através da saliva, placa dentária e refluxo do conteúdo gástrico ou
vómito.
Outra via de transmissão proposta é de um
paciente infectado para outro paciente, por exemplo, por meio do uso do
mesmo material médico de diagnóstico, como o endoscópio, que se
encontraria contaminado. No entanto, é de referir que apesar da
transmissão nasocomial ser o único modo de transmissão comprovado, em
termos quantitativos este é considerado insignificante.
Outra via de transmissão provável é
através da água, devido a uma possível contaminação fecal.
Apesar de o único reservatório importante
da H. pylori ser a mucosa gástrica humana, esta bactéria também
já foi isolada a partir de primatas não - humanos e de gatos domésticos;
contudo esta infecção é incomum e como tal não necessita ser considerado
um problema de saúde público.
Epidemiologia
A infecção por H. pylori possui uma
elevada prevalência, sendo que cerca de 50% da população mundial
encontra-se infectada. É considerado um problema de saúde tanto nos
países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos, possuindo uma
prevalência de cerca de 70% e entre 30 e 40%, respectivamente.
A prevalência da infecção depende
nomeadamente da área geográfica, raça, etnia, idade e condição
socioeconómica. A bactéria H. pylori é geralmente adquirida na
infância, sendo considerada a idade até aos 10 anos um fator de risco
adicional. Para além disso, a infecção pode permanecer por décadas a não
ser que seja tratada com esquemas terapêuticos que envolvem uma
combinação de fármacos, incluindo antibióticos.
Contudo, a maioria das pessoas infectadas
por H. pylori não desenvolve sintomas desta colonização. Apenas
15 a 20% dos indivíduos infectados desenvolvem problemas clínicos mais
severos, como úlceras gastroduodenais, linfoma MALT ou cancro gástrico.
Pensa-se que o risco da infecção evoluir para doenças mais severas
deve-se a uma combinação de fatores, como diferenças na susceptibilidade
genética do hospedeiro a estirpes específicas da H. pylori,
diferenças genéticas entre as estirpes da H. pylori e a fatores
ambientais, como tabagismo, consumo de álcool, dieta e alto consumo de
sal. Alguns estudos sugerem que dietas ricas em antioxidantes, frutas,
vegetais e vitamina C possuem um efeito protetor contra o risco de
infecção e desenvolvimento das doenças.
Doenças
Helicobacter pylori é
etiologicamente associada a várias doenças gastroduodenais.
A infecção por H. pylori conduz
sempre a uma inflamação da mucosa gástrica, sendo, inclusive, esta
bactéria, o principal agente etiológico da gastrite superficial crónica
(infiltrado celular de células imunes (mononucleares e
polimorfonucleares) na mucosa gástrica).
Em cerca de 5% dos pacientes infectados
com a bactéria, a gastrite pode evoluir para atrofia gástrica.
A infecção por H. pylori tem sido
associada ao desenvolvimento da úlcera péptica (tanto duodenal como
gástrica), sendo que pacientes infectados possuem um risco entre 10 a
20% de desenvolver ulceração. A infecção por este bacilo também tem sido
associada a um aumento do risco de desenvolver adenocarcinoma gástrico,
sendo que este ocorre entre 1 a 2% dos indivíduos infectados. Por
último, a infecção por H. pylori também pode conduzir a um
linfoma MALT (mucosa-associated lymphoid tissue), o qual ocorre
em menos de 1% dos pacientes infectados.
Colonização e Fatores de virulência
A H. pylori possui a capacidade de
colonizar a superfície do antro e do corpo do estômago, possuindo um
tropismo para as junções intercelulares das células epiteliais
gástricas.
H. pylori foi isolada pela primeira
vez em 1982 por Warren e Marshall, contudo esta bactéria coloniza os
seres humanos há pelo menos 58.000 anos e encontra-se muito bem adaptada
para conseguir sobreviver na mucosa gástrica humana. Para além disso,
erradicação espontânea desta bactéria do estômago humano é um evento
raro.
Resumidamente, o mecanismo de colonização
pela H. pylori envolve quatro principais etapas:
(1) penetração nas criptas das células
epiteliais da superfície do estômago;
(2) adaptação ao ambiente;
(3) fixação às células epiteliais;
(4) inflamação da mucosa gástrica /
aumento das espécies reativas de oxigénio (ERO) e nitrogénio (ERN),
resultado numa gastrite crónica.
Após a exploração dos mecanismos de defesa
do hospedeiro, o patógeno pode adquirir nutrientes e consequentemente
replicar-se com sucesso.
A colonização da mucosa gástrica requer um
complexo processo adaptativo. Neste contexto, as principais
características que permitem a H. pylori desenvolver-se no
estômago são:
· Mobilidade e penetração na camada de
muco viscoso do estômago devido à presença de flagelos e da forma
helicoidal, respectivamente;
· Capacidade para alterar o pH do estômago
através da produção da enzima urease, a qual hidrolisa a ureia em amônia
e dióxido de carbono, aumentando deste modo o pH no estômago e
consequentemente protegendo a bactéria da acidez gástrica;
· Presença de adesinas bacterianas que
permitem que a bactéria se ligue à superfície das células epiteliais,
como as adesinas HpaA (H. pylori adhesion A); BabA (blood
group antigen-binding adhesin); SabA (sialic acid binding adhesin)
e OMPs (outer membrane proteins);
· Indução de uma resposta inflamatória,
devido à presença de LPS na membrana externa, por exemplo;
· Produção de fatores de virulência, como
por exemplo, as citotoxinas VacA (vacuolating cytotoxin A); CagA
(cytotoxin associated gene A); CagPAI (CagA pathogenicity
Island), CagE (cytotoxin associated gene B), IceA (induced
by contact with epithelium) e HP-NAP (neutrophils-activating
protein). A proteína CagA afeta a transdução de sinais nas células
do hospedeiro e é associada com uma proeminente resposta inflamatória,
com o rearranjo do citoesqueleto e com a presença de cagPAI (grupo de
genes que codificam um sistema de secreção bacteriano). Já a citotoxina
VacA é associada à formação de vacúolos em culturas celulares, disrupção
de junções epiteliais, fragmentação das mitocôndrias e indução da
apoptose na mucosa gástrica.

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Diagnóstico
Atualmente existem diversos métodos de
diagnóstico comumente empregues para detectar a presença da bactéria
H. pylori na mucosa gástrica. Estes podem ser considerados não
invasivos ou invasivos quando baseados na biópsia endoscópica. No
primeiro grupo incluem-se o teste de depuração respiratória com C13
(carbonon-13); a pesquisa de antígenos da H. pylori nas fezes e a
sorologia que tem por base a presença de anticorpos IgG anti-H.
pylori. Nos testes invasivos inclui-se o exame histológico, cultura
e teste da urease na biópsia.
Referências / Para mais informações
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