Ciências da Terra e da Vida

Biologia

Diagnóstico Genético Pré-Implantação

Autor: Margarida Silva
Mestre em Biologia Celular e Molecular

 

Data de criação: 14/04/2015

Resumo: Apresentação do conceito de Diagnóstico Genético Pré-Implantação...
O diagnóstico genético pré-implantação (DGPI) é uma técnica alternativa ao diagnóstico pré-natal e é necessariamente realizada em embriões (...)

Palavras chave:  biologia

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Conceito de Diagnóstico Genético Pré-Implantação

O diagnóstico genético pré-implantação (DGPI) é uma técnica alternativa ao diagnóstico pré-natal e é necessariamente realizada em embriões obtidos pela técnica de microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides e antes da transferência dos embriões para o útero da mãe. Desta forma evita-se a realização de interrupções da gravidez, uma vez que este método de diagnóstico permite a escolha e a transferência de embriões não portadores de doenças genéticas e é recomendado a casais que sejam portadores ou com descendência ou familiares afetados por anomalias monogénicas (autossómicas, recessivas ou dominantes, ou ligadas ao cromossoma X) ou cromossómicas (estruturais, como as translocações recíprocas ou Robertsoneanas, inversões ou alterações numéricas, como as aneuploidias). Em Portugal, de acordo com o artigo 29º da lei nº 32/2006, o DGPI “aplica-se a pessoas provenientes de famílias com alterações que causam morte precoce ou doença grave, quando exista risco elevado de transmissão à sua descendência”. Surgem como indicadores para a realização do DGPI a idade materna avançada (devido ao aumento de anomalias cromossómicas durante a meiose), sucessivas falhas de implantação, fator masculino severo e casais com cariótipo normal que tenham sofrido abortos recorrentes.

O DGPI consiste na extração de uma ou duas células, que podem ser glóbulos polares (de ovócitos ou pré-zigotos), blastómeros de embriões em clivagem com 8 a 12 células (terceiro dia de cultura in vitro) ou células da trofoectoderme de blastocistos, e posterior análise genética. A biópsia de glóbulos polares poderá ser útil em casos em que se rastreiem mutações de origem materna, evitando-se a remoção de blastómeros (em alguns países, os laboratórios estão obrigados legalmente a utilizar apenas este método, pois é proibida a biópsia de embriões). A presença de mosaicismo cromossómico (alguns blastómeros aneuploides e outros euploides) poderá levar a que a biópsia de um só blastómero não seja representativa, podendo ser mais viável a biópsia de dois blastómeros de um embrião, de modo a minimizar a obtenção de falsos resultados positivos ou negativos.

Células analisadas

Vantagens

Desvantagens

Glóbulos polares

- Menos invasivo

- Menos questões éticas

- Contorna o problema do mosaicismo embrionário e de certas restrições legais

×   Apenas é analisado o material genético de origem materna

×   Mais caro, pois muitos ovócitos foram analisados e não evoluíram

1 a 2 blastómeros de embriões em fase de clivagem

- Material genético de ambos os progenitores

×   Mosaicismo, podendo levar a diagnósticos errados

×   A remoção de 2 blastómeros poderá afetar o desenvolvimento do embrião

Células da trofoectoderme de blastocistos

- Mosaicismo poderá ser contornado pela análise de um maior número de células

- Menor impacto no embrião

- Procedimento mais fácil de realizar

×   Cultura prolongada, sem garantia de que os embriões atinjam a fase de blastocisto

×   Maior grau de mosaicismo

×   Necessidade de criopreservação e de um novo ciclo de transferência de embriões

Tabela 1 – Comparação entre os diferentes tipos de biópsia que se pode realizar durante o DGPI. Adaptado de Harton et al. (2011).

Consoante o tipo de patologia a ser detetada no DGPI são empregues diferentes técnicas para análise do material genético:

· FISH (hibridização in situ com sondas fluorescentes) – no estudo de anomalias estruturais ou numéricas dos cromossomas;

· PCR (reação em cadeia da polimerase) – pode ser empregue em casos de doenças causadas por um gene.

Como já referido anteriormente, a obtenção de embriões pela microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides é fortemente recomendada de modo a evitar contaminações durante a análise por PCR, quer por espermatozoides que tipicamente ficam agarrados à zona pelúcida após a realização de fertilização in vitro, quer por células da granulosa que ainda possam estar presentes. A aplicação da técnica de PCR pode levar a erros de diagnóstico, devido à ocorrência da falha de amplificação de um alelo (fenómeno designado por “allele dropout”), dando origem a um falso resultado. Mais recentemente têm surgido novas técnicas baseadas em arrays, como a hibridização genómica comparativa ou arrays de polimorfismos de nucleótidos únicos.

Após serem obtidos os resultados do DGPI, a seleção do embrião a transferir deve seguir os seguintes critérios:

· Ausência de anomalia genética;

· Número de células antes e após a biópsia (é suposto o embrião continuar a dividir-se após a extração dos blastómeros);

· Ausência de anomalias morfológicas após a biópsia.

O procedimento do DGPI mais comum é a realização de uma biópsia a um embrião ao terceiro dia de cultura e a sua transferência (caso existam embriões elegíveis) ao quinto dia, quando já se devem encontrar em fase de blastocisto.

 

Referências:

Harton, G.L., Magli, M.. C., Lundin, K., Montag, M., Lemmen, J., and Harper, J.C. (2011). ESHRE PGD Consortium/Embryology Special Interest Group - best practice guidelines for polar body and embryo biopsy for preimplantation genetic diagnosis/screening (PGD/PGS). Human Reproduction 26, 41–46.

 

 

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