Conceito de Diagnóstico Genético
Pré-Implantação
O diagnóstico genético pré-implantação
(DGPI) é uma técnica alternativa ao diagnóstico pré-natal e é
necessariamente realizada em embriões obtidos pela técnica de
microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides e antes da
transferência dos embriões para o útero da mãe. Desta forma evita-se a
realização de interrupções da gravidez, uma vez que este método de
diagnóstico permite a escolha e a transferência de embriões não
portadores de doenças genéticas e é recomendado a casais que sejam
portadores ou com descendência ou familiares afetados por anomalias
monogénicas (autossómicas, recessivas ou dominantes, ou ligadas ao
cromossoma X) ou cromossómicas (estruturais, como as translocações
recíprocas ou Robertsoneanas, inversões ou alterações numéricas, como as
aneuploidias). Em Portugal, de acordo com o artigo 29º da lei nº
32/2006, o DGPI “aplica-se a pessoas provenientes de famílias com
alterações que causam morte precoce ou doença grave, quando exista risco
elevado de transmissão à sua descendência”. Surgem como indicadores para
a realização do DGPI a idade materna avançada (devido ao aumento de
anomalias cromossómicas durante a meiose), sucessivas falhas de
implantação, fator masculino severo e casais com cariótipo normal que
tenham sofrido abortos recorrentes.
O DGPI consiste na extração de uma ou duas
células, que podem ser glóbulos polares (de ovócitos ou pré-zigotos),
blastómeros de embriões em clivagem com 8 a 12 células (terceiro dia de
cultura in vitro) ou células da trofoectoderme de blastocistos, e
posterior análise genética. A biópsia de glóbulos polares poderá ser
útil em casos em que se rastreiem mutações de origem materna,
evitando-se a remoção de blastómeros (em alguns países, os laboratórios
estão obrigados legalmente a utilizar apenas este método, pois é
proibida a biópsia de embriões). A presença de mosaicismo cromossómico
(alguns blastómeros aneuploides e outros euploides) poderá levar a que a
biópsia de um só blastómero não seja representativa, podendo ser mais
viável a biópsia de dois blastómeros de um embrião, de modo a minimizar
a obtenção de falsos resultados positivos ou negativos.
Células analisadas |
Vantagens |
Desvantagens |
Glóbulos polares |
-
Menos invasivo
-
Menos questões éticas
-
Contorna o problema do mosaicismo embrionário e de certas
restrições legais |
×
Apenas é
analisado o material genético de origem materna
×
Mais caro, pois
muitos ovócitos foram analisados e não evoluíram |
1 a 2 blastómeros de embriões em fase de clivagem |
-
Material genético de ambos os progenitores |
×
Mosaicismo,
podendo levar a diagnósticos errados
×
A remoção de 2
blastómeros poderá afetar o desenvolvimento do embrião |
Células da trofoectoderme de blastocistos |
-
Mosaicismo poderá ser contornado pela análise de um maior
número de células
-
Menor impacto no embrião
-
Procedimento mais fácil de realizar |
×
Cultura
prolongada, sem garantia de que os embriões atinjam a fase
de blastocisto
×
Maior grau de
mosaicismo
×
Necessidade de
criopreservação e de um novo ciclo de transferência de
embriões |
Tabela 1 – Comparação entre os diferentes
tipos de biópsia que se pode realizar durante o DGPI. Adaptado de Harton
et al. (2011).
Consoante o tipo de patologia a ser
detetada no DGPI são empregues diferentes técnicas para análise do
material genético:
·
FISH (hibridização in situ
com sondas fluorescentes) – no estudo de anomalias estruturais ou
numéricas dos cromossomas;
·
PCR (reação
em cadeia da polimerase) – pode ser empregue em casos de doenças
causadas por um gene.
Como já referido anteriormente, a obtenção
de embriões pela microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides é
fortemente recomendada de modo a evitar contaminações durante a análise
por PCR, quer por espermatozoides que tipicamente ficam agarrados à zona
pelúcida após a realização de fertilização in vitro, quer por
células da granulosa que ainda possam estar presentes. A aplicação da
técnica de PCR pode levar a erros de diagnóstico, devido à ocorrência da
falha de amplificação de um alelo (fenómeno designado por “allele
dropout”), dando origem a um falso resultado. Mais recentemente têm
surgido novas técnicas baseadas em arrays, como a hibridização
genómica comparativa ou arrays de polimorfismos de nucleótidos
únicos.
Após serem obtidos os resultados do DGPI,
a seleção do embrião a transferir deve seguir os seguintes critérios:
· Ausência de anomalia genética;
· Número de células antes e após a biópsia
(é suposto o embrião continuar a dividir-se após a extração dos
blastómeros);
· Ausência de anomalias morfológicas após
a biópsia.
O procedimento do DGPI mais comum é a
realização de uma biópsia a um embrião ao terceiro dia de cultura e a
sua transferência (caso existam embriões elegíveis) ao quinto dia,
quando já se devem encontrar em fase de blastocisto.
Referências:
Harton,
G.L., Magli, M.. C., Lundin, K., Montag, M., Lemmen, J., and Harper,
J.C. (2011). ESHRE PGD Consortium/Embryology Special Interest Group -
best practice guidelines for polar body and embryo biopsy for
preimplantation genetic diagnosis/screening (PGD/PGS).
Human Reproduction 26,
41–46.
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