Conceito de Briófita
As briófitas são um grupo de plantas não
vasculares de pequeno porte, essencialmente terrestres, comumente
designadas de forma genérica por musgos. Representam cerca de 14.000
espécies do reino Plantae, cerca de 5% das plantas da Terra. Este
grupo é representado por três divisões ou filos: Bryophyta (musgos),
Marchantiophyta (hepáticas) e Anthocerotophyta (antóceros).
As briófitas distinguem-se dos restantes
grupos de plantas pelo facto de não possuírem tecidos condutores ou de
suporte e por terem um ciclo de vida haplodiplóide (o ciclo de vida
alterna entre a geração gametófita e a geração esporófita) com um
gametófito dominante e independente do esporófito. O gametófito é
haplóide, sendo que possui o mesmo número de séries de cromossomas que
um gâmeta ou n cromossomas. O esporófito é diplóide, já que, o núcleo
das suas células possui duas séries de cromossomas ou 2n
cromossomas e é dependente do gametófito do ponto de vista trófico. A
meiose nas briófitas é pré-espórica pois ocorre quando se formam os
esporos (os esporos são haplóides ou possuem n cromossomas).
Se quisermos fazer uma comparação com o
ciclo de vida de outros grupos de plantas, como as plantas com flor ou
angiospérmicas, por exemplo, verificamos que a geração gametófita nas
plantas com flor é bastante mais reduzida e basicamente se confina à
duração de vida da flor que é, do ponto de vista trófico, dependente do
restante corpo da planta ou da árvore (esporófito).
O gametófito nas briófitas
Regressando às briófitas, o gametófito é,
como já vimos, a estrutura predominante do seu ciclo de vida e sustêm-se
no substrato através dos rizóides – estruturas semelhantes a raízes mas
que, contrariamente a uma verdadeira raiz, não servem para absorver a
água e os nutrientes. Estas substâncias são directamente absorvidas pelo
gametófito. Pela sua dependência da água para a nutrição e movimentação
dos gâmetas durante a reprodução e, por não terem tecidos condutores nem
de suporte, as briófitas não podem atingir um grande porte. São, assim,
plantas pequenas com um crescimento próximo ao substrato. A água
absorvida no meio aquoso envolvente é transportada célula a célula,
transporte esse mais lento que nas plantas vasculares. Para plantas de
maior porte, este tipo de transporte deixa de ser eficaz, razão pela
qual plantas com vasos condutores especializados, como o xilema e o
floema, podem atingir dezenas de metros em altura.
A maioria das briófitas possui um
gametófito folhoso, constituído por um eixo central, o caulóide, rodeado
por filídeos (estruturas semelhantes a pequenas folhas). Note-se que os
rizóides, caulóides e filóides das briófitas são estruturalmente
diferentes dos caules e folhas das plantas vasculares. No entanto, numa
parte das briófitas o gametófito não é folhoso, mas sim, taloso ou
laminar, sem filídeos evidentes.
Os antóceros possuem gametófitos talosos,
com consistência gelatinosa e diferenciação dorsiventral - simetria de
forma achatada, em que a parte superior corresponde à face dorsal e a
inferior à face ventral.
Já dentro do grupo das hepáticas,
encontramos representantes com gametófitos folhosos e talosos. Os
folhosos apresentam diferenciação dorsiventral e os talosos possuem um
crescimento dicotómico (estrutura bifurcada). A designação hepática é
originária da palavra grega hepathos, que significa ‘fígado’,
remetendo para o formato do talo destas plantas que se assemelha a esse
órgão.
Os musgos diferem dos antóceros e das
hepáticas por possuírem caulóide com filídeos de simetria radial. Podem
apresentar um crescimento acrocárpico, com caulóides erectos, não
ramificados, crescendo em tufos. Neste tipo de crescimento, a célula do
ápice do caule pode originar um gametângio (estrutura onde são
produzidos os gâmetas) terminal. Nos musgos com crescimento
pleurocárpico, o crescimento é prostrado (rente ao substrato) e os
gametângios estão dispostos lateralmente, ao longo do caulóides. Os
caulóides com este tipo de crescimento possuem extensas ramificações
laterais formando coberturas no substrato semelhantes a tapetes.
O esporófito nas briófitas
A estrutura do esporófito é semelhante nas
três divisões. O esporófito vive sobre o gametófito e é constituído por
um pedículo, a seda ou seta. A seda serve de suporte à cápsula,
estrutura onde são produzidos os esporos.

Representação da estrutura de um musgo.
1) esporófito; 2) gametófito; 3) cápsula; 4) coifa ou caliptra; 5)
opérculo; 6) seda ou seta; 7) filídeos a rodear o caulóide; 8) rizóides.
Durante o seu crescimento, o esporófito
rompe a região basal do arquegónio (gametângio feminino), ficando a
parte superior sobre a cápsula, formando uma espécie de capuz (coifa ou
caliptra).
Ciclo de vida das briófitas
O ciclo de vida das briófitas é
caracterizado pela alternância de duas gerações, a geração gametófita e
a geração esporófita. Durante a geração gametófita (n) surgem os
órgãos responsáveis pela reprodução sexuada. Os anterozóides (gâmetas
masculinos) formam-se dentro dos gametângios masculinos, os anterídios,
e as oosferas (gâmetas femininos) formam-se dentro dos arquegónios. Após
a fecundação e sucessivas mitoses proliferativas, estabelece-se a
geração esporófita, durante a qual se desenvolve o esporófito (2n).
Os esporos haplóides (n) são formados por meiose dentro da
cápsula do esporogónio (esporófito) e são posteriormente libertados.
Após a germinação, cada esporo pode dar origem a um novo gametófito (n).
A primeira estrutura que surge é o protonema – corpo filamentoso, verde
e ramificado que corresponde à fase mais precoce do gametófito
germinado. A partir desta estrutura desenvolve-se a nova planta e a
formação de gametângios, iniciando-se um novo ciclo.
Representação esquemática do ciclo de
vida de uma briófita

Quando as condições do meio são
desfavoráveis, os musgos podem, em alternativa a esta forma de
reprodução sexuada, reproduzir-se assexuadamente por fragmentação.
Briófitas como bioindicadores
ambientais
Para que determinado taxon (grupo
taxonómico) possa ser considerado um bom bioindicador da qualidade
ambiental, é necessário que a sua biologia e ciclo de vida estejam bem
estabelecidos, a sua identificação no campo seja fácil de efectuar e
que, possua formas diversas com ocorrência em diferentes condições
ambientais. Estes grupos de espécies poderão ser mais ou menos sensíveis
a determinados factores ambientais e deverão reagir em função dessa
exposição, como por exemplo, não ocorrência de determinada espécie mais
sensível à má qualidade ambiental num habitat mais poluído.
As briófitas são bons bioindicadores de
poluição pois possuem um gradiente de espécies mais ou menos tolerantes
à qualidade ambiental. Devido à ausência de cutícula os musgos são muito
sensíveis à poluição, já que, podem facilmente acumular as substâncias
tóxicas do meio.
A Serra de Monfurado em Montemor-o-Novo é um exemplo de um local onde
foi aplicada a biomonitorização através de musgos aquáticos. O estado de
contaminação dos cursos de água através da análise de poluentes
acumulados nestes musgos faz parte de um estudo enquadrado no Projecto
GAPS – Gestão Activa e Participada do Sítio de Monfurado.
Mais informação sobre este estudo pode
ser encontrada em:
http://naturlink.sapo.pt/Investigacao/Projectos/content/Biomonitorizacao-da-qualidade-das-aguas-superficiais-nas-Ribeiras-de-Monfurado?bl=1&viewall=true#Go_1
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