Ciências Sociais e Humanas

Psicologia

Trauma

Autor: Catarina Vargues Conceição

Mestre em Psicologia

Data de criação: 30/04/2015

Resumo: Apresentação do conceito de Trauma...

O trauma pode ser amplamente entendido como a experiência de uma situação ameaçadora para a vida ou segurança do indivíduo, que pode (...)

Palavras chave:  psicologia

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Conceito de Trauma

O trauma pode ser amplamente entendido como a experiência de uma situação ameaçadora para a vida ou segurança do indivíduo, que pode colocar em risco a sua integridade ou de outros, e face à qual este experiencia emoção de medo intenso, bem como dificuldade ou incapacidade em mobilizar recursos para responder à situação. A experiência de trauma constitui-se assim como uma vulnerabilidade psicológica para o indivíduo, podendo ter consequências a longo prazo consoante o impacto ou severidade da mesma. A severidade pode ser mensurada em função da intensidade, frequência e duração (e.g. experiência repetida de violência física) da experiência ou experiencias traumáticas, abrangendo diversas situações, como sejam as situações de guerra e catástrofes naturais, situações em contexto interpessoal como a violência física, psicológica e sexual, bem como a negligência, ou situações de envolvimento em crimes. O envolvimento numa situação percebida como traumática assume diferentes características consoante a situação específica, podendo incluir o indivíduo enquanto vítima, testemunha (espectador) ou na tomada de conhecimento (não espectador) de uma situação violenta e inesperada, de morte ou não, experienciada por outro indivíduo emocionalmente significativo. Consoante a severidade do trauma podem ocorrer manifestações clínicas após o acontecimento, durante 1 a 3 meses (forma aguda) ou por mais de 3 meses (forma crónica), que consubstanciam a perturbação de stress pós-traumático (descrita no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, DSM) caracterizada pela intrusão de memórias relativas ao acontecimento e associadas à experiência das emoções vivenciadas na experiência traumática, como o medo, o horror ou o desespero, desencadeando no indivíduo um comportamento de hipervigilância (relacionada com hiperactivação fisiológica) face ao meio e aos estímulos que evoquem o trauma. Neste sentido, verificam-se dificuldades nas rotinas diárias do indivíduo, expressas em manifestações de insónia, dificuldades de atenção e concentração, bem como a experiência de ansiedade desajustada aos estímulos com que o indivíduo se depara. Em resposta a esta experiência, o indivíduo apresenta um comportamento de evitamento, não só a nível cognitivo (evitamento de pensamentos sobre a experiência de trauma) e emocional (evitamento das emoções associadas, podendo despoletar inclusive embotamento afectivo), mas também comportamental (evitamento de estímulos que evocam a memória, e.g. evitamento do local onde se verificou o acontecimento traumático ou evitamento de objectos que lembrem o acontecimento). O evitamento tende a contribuir para a confirmação das crenças de ameaça, modelando as crenças do indivíduo acerca de si e do mundo, e perpetuando a ansiedade experienciada pelo indivíduo a longo prazo, não obstante reduzi-la no momento em que evita a situação. O ciclo que se gera tende deste modo a contribuir para dificuldades na regulação emocional do indivíduo (e.g. respostas emocionais não adaptativas a uma determinada situação), que decorre da confirmação de crenças não adaptativas e do isolamento. Estas respostas podem ser trabalhadas no contexto psicoterapêutico, possibilitando ao indivíduo a dessensibilização do acontecimento traumático, a par da reestruturação de crenças e do reprocessamento das memórias emocionais, que deste modo possibilitam uma gradual reorganização da vida e promoção do bem-estar psicológico do indivíduo.

 

 

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