Conceito de Terapias Cognitivas
As
terapias cognitivas baseiam-se em diferentes teorias e modelos
cognitivos, que apesar das suas variantes apresentam postulados comuns,
sendo estes: A influência da cognição (conteúdos e estruturas
cognitivas, como pensamentos, atribuições, expectativas, crenças,
esquemas), ao invés dos acontecimentos, no comportamento; A
possibilidade de mudança dos conteúdos e estruturas cognitivas; e a
possibilidade da mudança cognitiva gerar mudança comportamental
(Gonçalves, 1993). Entre as teorias cognitivas destaca-se a teoria de
Beck, baseada nos seus conceitos-chave relativos aos pensamentos
automáticos disfuncionais e às crenças disfuncionais (crenças
centrais e condicionais/regras de funcionamento), na qual a
activação das crenças, pautadas por distorções cognitivas
(distorcer a informação, e.g. numa situação ambígua, realizar
abusivamente uma determinada interpretação; generalizar o resultado de
uma situação para todas as outras situações semelhantes), se repercute
em pensamentos automáticos disfuncionais sobre o próprio, os
outros e o mundo. Paralelamente, a teoria de Ellis, designada por
Teoria Racional-Emotiva, aproxima-se daquela anteriormente
mencionada por se referir ao carácter não adaptativo das crenças, que
quando activadas despoletam distress psicológico,
diferenciando-se na designação que atribui a estas mesmas crenças,
consideradas irracionais, isto é, crenças que carecem de suporte
lógico, inflexíveis e pervasivas, e às quais estão associadas emoções e
estados de humor desajustados e desproporcionais. Deste modo, a resposta
das terapias cognitivas consiste na reestruturação e refutação
cognitiva, através da flexibilização da perspectiva do indivíduo sobre
determinada situação, na procura de alternativas de interpretação,
explicação ou contra-argumentação. Esta flexibilização visa assim a
possibilidade de mudar a intensidade emocional, dando lugar a emoções
mais ajustadas a cada situação. A reestruturação cognitiva afigura-se
importante nos diferentes níveis do processamento de informação,
iniciando-se pelos pensamentos automáticos disfuncionais, sinalizados
frequentemente pela experiência emocional e pelas respostas
comportamentais desajustadas. Contudo, a automaticidade e, por
conseguinte, a imperceptibilidade destes pensamentos e interpretações
pode torná-los de difícil acesso, levando a que o indivíduo não
apresente consciência dos mesmos. O pensamento e foco selectivo da
atenção numa parte da informação que para o indivíduo é saliente e
significativa é um exemplo recorrente e que tende a verificar-se pela
activação das suas crenças e esquemas, seleccionando a informação
congruente com os mesmos e restringindo-se à emoção coerente com a parte
que é atendida. Deste modo, verificam-se frequentemente ciclos que se
perpetuam na dinâmica entre o modo como o indivíduo se perspectiva a si,
aos outros e ao mundo, precursor do modo como se sente (face a si, aos
outros e ao mundo), por sua vez precursor do modo como se torna a ver,
perspectivar (a si, aos outros e ao mundo). Tendo em conta a influência
dos esquemas não adaptativos, a sua reestruturação afigura-se igualmente
importante, constituindo objecto das terapias cognitivas, nomeadamente
da Teoria Focada nos Esquemas de Young. De acordo com esta, as
perturbações psicológicas decorrem da activação de esquemas não
adaptativos que organizam a informação de forma rígida e
generalizável, desenvolvidos em idades precoces do desenvolvimento, e
que contribuem para dar sentido, significado e congruência cognitiva.
Contudo, estes esquemas ao revelarem-se disfuncionais assumem uma
influência não adaptativa nas emoções e comportamentos do indivíduo,
como seja, na interacção social, sob a forma de ciclos interpessoais
disfuncionais (e.g. face à crença ou esquema de abandono, o indivíduo
termina o relacionamento para evitar que a outra pessoa tome essa
decisão, confirmando a crença de que os seus relacionamentos não são
“bem-sucedidos”). As terapias cognitivas afiguram-se centrais nas
abordagens psicoterapêuticas cognitivas e cognitivo-comportamentais em
Psicologia Clínica, demonstrando resultados significativos na promoção
de bem-estar psicológico e na redução do mal-estar/distress
psicológico em diversas perturbações psicológicas, como sejam as
perturbações de ansiedade (e.g. social, pânico), depressivas ou nas
dificuldades de controlo dos impulsos (e.g.
agressividade,
comportamento alimentar).
Referências bibliográficas
Gonçalves,
O. (1993): Terapias cognitivas: Teoria e Prática.
Porto: Edições Afrontamento.
Scott,
J., Mark, J., Williams, G., & Beck, A. (1989).Cognitive Therapy in
Clinical Practice. An illustrative casebook. New York: The Guildford
Press.
Young,
J., Klosko, J., & Weishaar, M. (2003). Schema Therapy. A
practitioner’s guide.
New York: The
Guildford Press.
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