Conceito de Psicoterapia de Grupo
No
início
do séc. XX, Freud iniciou aquilo que depressa se tornou num processo
para ajudar as pessoas a sentirem-se emocionalmente melhor e a
conseguirem obter bem-estar, a esse processo chamou-se psicoterapia
(Moreira, Gonçalves & Beutler, 2005).
Compreender
a natureza da psicoterapia é uma tarefa complicada, pois existem mais de
400 abordagens diferentes, cada uma delas fornecendo outros tantos
modelos, descritos em mais de 100 000 livros e no que se refere à sua
eficácia, Moreira, Gonçalves e Beutler (2005)
referem a existência de milhares de estudos acerca da sua
eficácia.
Segundo a literatura americana, o médico Joseph Pratt (1908)
(citado por Falkowski, 1997, citado por Edwards & Dare, 1997)
é considerado o pai da terapia de grupo, devido ao seu trabalho com
pacientes com tuberculose.
Pratt
começou a realizar grupos com um propósito educacional (ensinar aos
pacientes a melhor maneira de cuidar de si próprios e da doença) e
adoptando técnicas denominadas, posteriormente, comportamentais, como a
utilização de um registo diário para anotação de detalhes do dia-a-dia e
tarefas a serem realizadas em casa.
Alguns anos depois, o modelo de Pratt foi adoptado em diversas
localidades dos Estados Unidos da América para tratamento não só de pacientes com tuberculose, mas também em
pacientes com diagnóstico de doença mental
(Bechelli & Santos, 2004).
Freud (1955)
(citado por Falkowski, 1997, citado por Edwards & Dare, 1997)
focou a sua atenção na terapia individual, da mesma
forma que Jung desenvolveu também um evidente preconceito relativamente
ao uso de grupos no seu trabalho.
No entanto é curioso observar-se que um contemporâneo de Jung e Freud,
Alfred Adler, estava em
desacordo,
pois achava que os factores sociais deveriam constituir a base do
tratamento de grupo na orientação infantil e no tratamento de
alcoólicos, por exemplo
(Falkowski, 1997,
citado por Edwards & Dare, 1997).
Serebrinsky (2012) corrobora, mencionando que não podemos esquecer que os
indivíduos crescem dentro de um sistema (familiar/social) do qual vão
obtendo a informação que servirá de “base” ao sistema de crenças que
cada indivíduo adopta.
A
psicoterapia de grupo inclui três universos (o indivíduo, o grupo e a
sociedade) nos quais o ser humano se desenvolve, pensa e vive e a
intervenção num espaço grupal vai gerar trocas entre estes universos
(Serebrinsky, 2012).
O objectivo da psicoterapia de grupo é proporcionar um entendimento mais
alargado do self e do efeito
que
um indivíduo tem sobre os outros indivíduos do grupo, avaliando o efeito
que os outros têm no indivíduo
(Falkowski, 1997, citado por Edwards
& Dare, 1997).
O
estabelecimento
de novos relacionamentos no grupo aumenta a autonomia dos pacientes, a
sua motivação e expectativa de que a terapia seja bem sucedida
(Falkowski, 1997, citado por Edwards & Dare, 1997).
Em situações de negação (mecanismo de defesa), é neste contexto (em
grupo) que a confrontação pode ser
mais efectiva do que a existente unicamente com o terapeuta, mas também
é mais eficaz.
Em
terapia
de grupo, um aspecto a ter em conta é que um terapeuta interessado em
apreender e coordenar um grupo deve recorrer a supervisão clínica
regular
(Serebrinsky,
2012).
Na
opinião
de Falkowski
(1997, citado por
Edwards & Dare, 1997),
convém que o terapeuta do grupo tenha um co-terapeuta para que seja
possível discutir-se processos e conteúdos depois de cada sessão e, se
um deles não puder comparecer a uma sessão, o outro pode manter a
continuidade.
Sara
Torres
(2005, citada por Guerra & Lima, 2005) indica
que este terapeuta deve ser suficientemente compreensivo e adoptar uma
postura isenta de imposições e julgamentos, ou seja, tem de ter o
cuidado de não ter atitudes condenatórias, punitivas, moralistas ou de
superioridade, pois desta forma o paciente pode sentir-se retraído,
humilhado. Este é um contexto em que não existem vencedores ou vencidos.
A mesma autora acrescenta que, basicamente, o papel do terapeuta é o de
facilitar a interacção entre os
elementos,
ajudá-los a aprenderem uns com os outros, auxiliá-los a definir os seus
objectivos pessoais e encorajá-los a traduzir os seus insights em
planos concretos que envolvam acções concretas fora do grupo.
A duração é de normalmente uma hora e meia, mas pode ser mais longa,
desde que isso tenha sido
previamente
combinado e todos tenham concordado.
Cada
paciente
deve ser entrevistado individualmente pelo terapeuta antes de poder
fazer parte do grupo, para se decidir se é adequado para o grupo que se
pretende ou se é mais apropriado para um grupo diferente
(Falkowski, 1997, citado por Edwards & Dare, 1997).
A
psicoterapia
de grupo tem sido muito utilizada em perturbações de consumo de
substâncias (álcool e drogas). Falkowski
(1997, citado por Edwards & Dare, 1997)
enaltece os estudos de Madden e Kenyon (1975), Blume (1989), Wallace
(1989), Sandahl e Rosenberg (1990), Bowers e al-Redha (1990), Lovet e
Lovet (1991), Mantano e Yalom (1991) no âmbito destas perturbações.
Não
obstante,
esta modalidade de tratamento tem
sido também desenvolvida
pacientes com outras condições médicas/psíquicas e sociais, como por
exemplo: perturbações obsessivo-compulsivas, perturbações de stresse
pós-traumático, acompanhamento de vítimas de violência doméstica,
traumas/abusos
na infância, entre muitas outras
(Bechelli & Santos, 2004;
Serebrinsky, 2012).
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