Conceito de Psicologia da Dor
Na consulta de
psicologia da dor, são dois os tipos de dor com os quais os
profissionais de saúde lidam: a dor aguda e a dor crónica. A dor aguda é
caracterizada por dores temporárias, que desaparecem naturalmente, ou
após tratamento médico adequado. Já a dor crónica trata-se de um tipo de
dor que se distingue pela regularidade e persistência dos seus
episódios, geralmente com duração superior a seis meses e, ao contrário
da dor aguda, não atua como função de alarme do organismo. Este tipo de
dor está igualmente associado a quadros de depressão e ansiedade, os
quais agravam a sua intensidade (Hanson e Gerber, 1990; cit. por Gomes,
2008).
O impacto destes dois
tipos de dor no quotidiano do indivíduo é de igual modo divergente,
estando dependente da forma como a pessoa conceptualiza a sua situação
de doença, e como se revê no papel de doente. Existem pessoas que
conseguem gerir a sua condição de uma forma mais otimista, minimizando
os efeitos negativos da doença. Essas pessoas continuam com as suas
atividades diárias, mesmo que sejam necessárias algumas adaptações, e
aceitam a existência da dor, adaptando-se a ela e adotando estratégias
de confronto adequadas. Outras pessoas, e principalmente em situações de
dor crónica, desenvolvem um conjunto de características comportamentais
e psicológicas que demonstram uma situação de dor que ultrapassa o
considerado normal, observando-se desistência, desesperança e desespero,
devido a insucessos consecutivos no controlo da dor; debilidade física
decorrente da inatividade e da perda de interesse nas atividades do
dia-a-dia; desenvolvimento de quadros depressivos e ansiógenos,
associados a sintomas disfuncionais como o evitamento ou redução
significativa da atividade física habitual, incluindo atividades de
prazer e mestria; alterações do sono e da alimentação; conflitos com
familiares e amigos; utilização inadequada da doença para obtenção de
regalias como a atenção dos outros, ou outros ganhos pessoais; entre
outros aspetos (Hanson e Gerber, 1990; cit. por Gomes, 2008).
Assim, considera-se
que “a dor é um fenómeno complexo, subjetivo e único para cada pessoa e,
por isso, para perceber esta experiência é necessário entender a
perceção idiossincrática do fenómeno da dor, das estratégias de
confronto pessoais e dos efeitos da dor sobre a qualidade de vida
própria e de outros significativos” (Gomes, 2008, p.11). Deste modo, e
sendo a dor um fenómeno biopsicossocial, considera-se relevante que
exista uma análise funcional do problema que compreenda as diversas
dimensões que se conhece estarem envolvidas na experiência de dor, sendo
elas as dimensões cognitivas, emocionais, comportamentais, e ambientais
físicas e sociais (Gomes, 2008).
Além da consideração
destas dimensões, e da história clínica do paciente, a caracterização da
dor é um aspeto igualmente importante na avaliação do indivíduo. As
sensações físicas que definem a experiência de dor enquadram cinco
dimensões principais (Gomes, 2008):
-
Localização: a parte do corpo onde é sentida a dor
-
Intensidade: grau de intensidade de dor sentida
-
Qualidade: a natureza da sensação (queimadura, guinada,
entre outros)
-
Classificação: incómoda, forte, violenta, horrível
-
Tempo: quantidade de tempo que a dor é sentida
Outra forma de
avaliação da dor, a mais comumente utilizada, envolve a escala de dor, a
qual pode ser numérica (0 a 10, sendo 0 ausência de dor, e 10 dor
intensa), verbal (sem dor, dor moderada, dor forte, dor insuportável),
categorial ou analógica visual (o paciente assinala a intensidade de dor
numa linha previamente desenhada de 10 centímetros) (Gomes, 2008).
É de ter em
consideração que, embora haja uma tentativa de quantificar e qualificar
a dor, qualquer sensação de dor constitui uma experiência privada e,
desta forma, não é possível mensurá-la de forma objetiva (Gomes, 2008).
De forma a intervir
nos quadros de dor, a abordagem
cognitivo-comportamental tem sido a mais utilizada, defendendo a
importância das cognições e das respostas de confronto e ajustamento à
dor aguda e crónica. No contexto da dor, esta abordagem procura
modificar respostas cognitivas e comportamentais relacionadas ao quadro
álgico, assumindo que essas mudanças conduzirão a um melhor
funcionamento físico e psicológico do indivíduo (Jensen, Turner e
Romano, 2001; cit. por Gomes, 2008).
Referências
bibliográficas:
-
Gomes, A. (2008). Abordagem psicológica no controlo da
dor. Lisboa: Permanyer.
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