Conceito de Perturbação de Oposição e
Desafio
A perturbação de oposição e desafio (POD) enquadra-se nas perturbações
de comportamento disruptivo de acordo com o Manual de Diagnóstico e
Estatísticas das Perturbações Mentais (Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders, DSM), caracterizando-se por um padrão
consistente de negativismo, hostilidade (e.g. discussão frequente e de
forma agressiva verbalmente) desafio, desobediência (e.g. recusa de
regras ou limites) e externalização (e.g. culpabilização dos outros pelo
comportamento inadequado), dirigida a figuras de autoridade, como sejam
os pais ou os professores. Esta perturbação ocorre nos estádios de
desenvolvimento da infância e adolescência, iniciando-se geralmente na
infância, podendo prolongar-se até ao fim da adolescência. Verifica-se
que crianças e adolescentes com funcionamento característico de POD
apresentam dificuldades emocionais (e.g. na identificação de emoções e
regulação emocional) e crenças disfuncionais relativamente a si mesmos,
repercutindo-se em baixa auto-estima e percepção diminuída de
auto-eficácia na resolução de tarefas. A percepção de auto-eficácia
apresenta-se fulcral no contexto escolar, estando nas crianças e
adolescentes com POD associada a baixa tolerância à frustração,
desencadeando desinvestimento nas tarefas e desmotivação escolar.
Apresentam ainda dificuldades no relacionamento interpessoal, sendo
frequentemente rejeitados pelos seus pares e manifestando dificuldade na
compreensão da perspectiva dos outros e na resolução de problemas
sociais. As suas crenças sobre os outros tendem a ser negativas e
frequentemente confirmadas pelas respostas de figuras de autoridade
quando estas reforçam e salientam unicamente os comportamentos
inadequados da criança ou adolescente. De facto, os estilos parentais e
o ambiente, de um modo global, em que a criança ou adolescente está
inserido afiguram-se importantes no modo como este se comporta e mantém
este comportamento, revelando-se crucial o estabelecimento de limites
firmes e consistentes (por oposição a estilos demasiado flexíveis e
permissivos, sem estabelecimento de regras), complementarmente ao
reforço positivo de pequenos esforços ou comportamentos adequados da
criança (por oposição a estilos demasiado rígidos e de saliência da
punição dos comportamentos inadequados). A importância dos estilos
parentais decorre em parte do que se designa por modelagem, isto é, a
aprendizagem que decorre da observação dos modelos desempenhados pelos
pais, ou outras figuras de autoridade significativas, como se verifica
por exemplo na manifestação de comportamentos agressivos (e.g. bater ou
gritar) por parte destas figuras. A criança ou adolescente aprende a
comportar-se agressiva ou hostilmente em parte pela aprendizagem que
ocorreu no seio familiar ou outro significativo. Diversos estudos
sugerem ainda influências de factores neuropsicológicos na manifestação
e desenvolvimento de POD, nomeadamente ao nível das funções executivas
associadas à capacidade de controlo, ao planeamento e à flexibilidade
cognitiva (e.g. Sá, Albuquerque & Simões, 2008), áreas em que as
crianças e adolescentes com POD demonstram dificuldades. Estes estudos
apresentam-se congruentes com resultados apresentados em crianças e
adolescentes com Hiperactividade e Défice de Atenção, sugerindo que
estes factores podem ser comuns entre perturbações de comportamento
disruptivo, verificando-se inclusive elevada comorbilidade (manifestação
simultânea de duas entidades ou perturbações) entre estas duas
perturbações. A manutenção destes comportamentos pode favorecer o seu
agravamento, contribuindo para o seu enquadramento na perturbação de
conduta, também caracterizada enquanto perturbação de comportamento
disruptivo. Afigura-se assim essencial a tomada de consciência e
compreensão daqueles que são comportamentos normativos, isto é, ditos
normais (e.g. em estádios precoces do desenvolvimento, a criança ainda
não apresenta estratégias para lidar de forma adaptada com a frustração
em situações de stress; comportamentos agressivos pontuais ou
desafio característica da adolescência) do funcionamento na infância e
adolescência, diferenciando-os daqueles que em razão de maior
frequência, intensidade, duração (perturbadores, não adaptativos e
indutores de mal-estar significativo) e generalização (usualmente quando
estes comportamentos ocorrem em mais do que um contexto, e.g. contexto
familiar e escolar) se tornam disruptivos do funcionamento e
desenvolvimento adaptativo da criança ou adolescente.
Referência bibliográfica
Sá,
D.,
Albuquerque,
C., & Simões, M. (2008). Avaliação neuropsicológica da perturbação de
oposição e desafio. Psicologia, Saúde e
Doenças, 9(2), 299-317.
|
Procure outros termos na nossa enciclopédia
|
|
|