Conceito de Inteligência Emocional
Inteligência “tradicional” e Quociente de Inteligência vs
Inteligência Emocional e Quociente Emocional (QE)
Ao falar-se em inteligência, surge automaticamente o
conceito de quociente de inteligência (QI) (Filliozat, 2003) que Daniel
Goleman (2000) menciona que por si só explica muito pouco do bom
desempenho no trabalho e na vida, referindo que quando os testes de QI
apresentam alguma correlação com o êxito dos indivíduos no seu trabalho,
a estimativa mais elevada da importância do QI não ultrapassa os 10 a
7%.
O conceito de Inteligência (“tradicional”) surge com
Alfred Binet, pai do teste de QI, no entanto é a Sternberg, Gardner e
Salovey que se deve a ideia de que a inteligência de Binet é um conceito
unilateral que na verdade pode englobar algo bem mais amplo (Martin &
Boeck, 1997).
Uma das maiores críticas de Goleman (2003) é que embora
já muitos tenham conhecimento que um QI elevado não é garantia de
sucesso, prestígio ou felicidade na vida, as escolas e a sociedade
continuam ainda fixas nas capacidades académicas, ignorando a
inteligência emocional.
A inteligência emocional e o Quociente Emocional (QE)
foram consideradas as palavras ou expressões mais úteis em 1995 pela
American Dialect Society (Brodie, 1996, citado por Mayer, Salovey &
Caruso, 2002), sendo que esse interesse começou com dois artigos
publicados em jornais académicos em 1990 (Mayer, DiPaolo e Salovey,
1990; Salovey e Mayer, 1990, citado por Mayer, Salovey & Caruso, 2002) e
trabalhos subsequentes, dos quais grande parte foi popularizada no livro
campeão de vendas intitulado “Inteligência Emocional” de Goleman (1995)
(Mayer, Salovey & Caruso, 2002).
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Segundo Salovey e Mayer (1990, citado por Bueno & Primi,
2003), inteligência emocional refere-se a habilidades que estão
relacionadas com a capacidade de monitorizar os sentimentos e emoções do
próprio e dos outros, ou seja, tendo em consideração as sete
inteligências identificadas por Gardner, para estes dois autores, a
inteligência emocional seria como que uma junção da inteligência
interpessoal e intrapessoal (Filliozat, 2003; Martin & Boeck, 1997).
Para Bar-On (1997) a inteligência emocional é como uma
gama de aptidões, competências e habilidades não-cognitivas que
influenciam a capacidade do indivíduo de lidar com as demandas e
pressões do ambiente (Mayer, Salovey & Caruso, 2002).
Segundo Salovey e Mayer (1990, citado por McCallum &
Piper, 2002) a inteligência emocional é continuamente apresentada por
Goleman (1995) como um atributo unicamente positivo. Contudo, Martin e
Boeck (1997) mencionam que embora positivo é importante não descurar a
importância deste, no caso de indivíduos que perante experiências
difíceis, sentem que não têm capacidade de as controlar.
Daniel Goleman (2000) e Magai e McFadden (1995, citado
por Izard, 2001) indicam que tanto na expressão de emoções, como no
nível de inteligência emocional, o indivíduo não é geneticamente fixo
nem se desenvolve apenas nos primeiros anos de vida, pois na verdade,
esta continua a desenvolver-se ao longo da vida, à medida que se aprende
com as experiências. Segundo eles, a Inteligência Emocional é uma
competência que pode ser sempre crescente.
Em 2003, Goleman, menciona que não tem dúvidas em afirmar
que a aprendizagem emocional começa nos primeiros momentos da vida e
continua ao longo de toda a infância, sendo que todas as pequenas trocas
entre pais e filhos têm uma legendagem emocional, e é a partir da
repetição dessas mensagens que a criança forma o núcleo das suas
perspectivas e capacidades emocionais. De forma mais radical, Mayer,
Salovey, Caruso e Sitarenios (2001) referem que a Inteligência Emocional
poder aumentar simultaneamente com a idade.
Capacidades da Inteligência Emocional
Goleman (2000) afirmou que a inteligência emocional é
constituída por cinco capacidades:
- Autoconsciência,
- Automotivação,
- Autocontrole,
- Empatia,
- Sociabilidade ou talento nas relações.
Autoconsciência
refere-se à facilidade em lidar com os próprios sentimentos no que se
refere à identificação, à nomeação, à avaliação e ao reconhecimento
desses sentimentos (Queroz & Neri, 2005).
Automotivação
inclui a facilidade de elaborar planos para a própria vida, de modo a
criar, acreditar, planear, persistir e manter situações propícias para a
concretização de futuras metas.
Autocontrole
refere-se à facilidade de monitorizar os próprios sentimentos, impulsos,
pensamentos e comportamentos. (Queroz & Neri, 2005).
Queroz e Neri (2005) explicam que a empatia é
definida como a facilidade em identificar os sentimentos, desejos,
intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, por intermédio da
leitura e da compreensão de comportamentos não verbais, ou seja, é a
capacidade do indivíduo ter uma visão do mundo do outro como se
utilizasse o seu ponto de vista.
Sociabilidade
refere-se à facilidade de iniciar e preservar as amizades, ser aceite
pelas pessoas, valorizar as relações sociais, adaptar-se a situações
novas, liderar, coordenar e orientar as acções das outras pessoas
(Queroz & Neri, 2005).
Goleman (2003) indica que indivíduos com uma elevada
inteligência emocional são socialmente ajustados, extrovertidos e
alegres, além de terem uma grande capacidade para se dedicarem a pessoas
e a causas, para assumirem responsabilidades e para serem compreensivos
nas suas relações, sentindo-se bem consigo próprios, com os outros e com
o universo social em que estão inseridos.
Limitações da Inteligência Emocional
Mayer, Salovey e Caruso (2002) indicam que embora a
inteligência emocional tenha sido realmente caracterizada por muitos
como “duas vezes mais importante que o QI” e que “acerta mais do que o
QI”, há evidências na literatura que contradizem estas caracterizações.
Referem que essas caracterizações foram examinadas por eles e por outros
e que pareceram muito pouco prováveis, não encontrando nenhuma evidência
que as possa comprovar (Mayer, Salovey & Caruso, 2000).
Acrescentam ainda que pode parecer inadequado considerar
a teoria de Goleman (1995) científica.
Bueno e Primi (2003) referem que um dos maiores problemas
relacionados com a inteligência emocional é o da mensuração, pois os
instrumentos de avaliação têm sido, invariavelmente, baseados em
auto-relato, ou seja, recolhem a opinião do indivíduo relativamente a si
próprio.
Os mesmos autores referem que este tipo de mensuração,
utilizada com sucesso na avaliação de traços de personalidade, não é
adequada para a mensuração da inteligência emocional, porque, segundo
eles, não faz sentido mensurar qualquer tipo de inteligência perguntando
ao sujeito o quanto ele se considera inteligente, ou o quanto ele se
considera capaz de resolver problemas deste ou daquele tipo. Assim,
mencionam que a família possa ser um factor importante nesta mensuração.
Bibliografia:
- Bueno, J.
M. H. & Primi, R. (2003). Inteligência emocional: um estudo de validade
sobre a capacidade de perceber emoções. Psicologia: Reflexão e
Crítica, 16 (2), 279-291
-
Filliozat, I. (2003). A inteligência do coração. Lisboa:
Pregaminho
- Goleman,
D. (2000). Trabalhar com Inteligência Emocional. Lisboa: Temas e
Debates
- Goleman,
D. (2003). Inteligência Emocional. Lisboa: Temas e Debates
- Hedlund, J. & Sternberg, R. J. (2002).
Inteligências em Excesso?. In R. Bar-On & J. Parker (Eds.). Manual de
inteligência emocional (111-131).
Porto Alegre: Artmed Editora
- Izard, C. E. (2001). Emotional Intelligence or
Adaptative
Emotions?.
Emotion,
1(3), 249-257
- Mayer, J.
D., Salovey, P. & Caruso, D. R. (2002). Inteligência Emocional como
Zeitgeist, como personalidade e como Aptidão Mental. In R. Bar-On & J.
Parker (Eds.). Manual de inteligência emocional (81-98). Porto
Alegre: Artmed Editora
-
Mayer, J. D., Salovey, P., Caruso, D. &
Sitarenios,
G. (2001).
Emocional Intelligence as a Standard Intelligence.
Emotion, 1 (3), 232-242
- Martin, D. & Boeck, K. (1997).
O que é a
Inteligência Emocional.
Lisboa: Pregaminho
- McCallum,
M., Piper, W.E. (2002). Disponibilidade Psicológica e Inteligência
Emocional. In R. Bar-On & J. Parker (Eds.). Manual de inteligência
emocional (99-110). Porto Alegre: Artmed Editora
- Queroz,
N. C. & Neri, A. L. (2005). Bem-estar psicológico e inteligência
emocional entre homens e mulheres na meia-idade e na velhice.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 18 (2), 292-299
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