Conceito de Estádios de Desenvolvimento
O desenvolvimento
pode ser entendido como um processo através do qual se verificam
gradualmente mudanças ao longo do ciclo de vida, caracterizadas por um
conjunto de ganhos e perdas. Este processo pode ser conceptualizado nos
diferentes domínios (físico/biológico, cognitivo, emocional e
interpessoal), sendo fundamental a interacção estabelecida entre estes
no desenvolvimento global do indivíduo. São diversos os teóricos que se
debruçaram sobre o estudo do desenvolvimento ao longo da história da
Psicologia, podendo destacar-se Jean Piaget na conceptualização de
estádios de desenvolvimento cognitivo ou Erik Erikson na
conceptualização de estádios de desenvolvimento psicossocial ao longo do
ciclo de vida. Os estádios de desenvolvimento podem assim apresentar
diferentes concepções consoante os diferentes modelos ou teorias de
desenvolvimento. De acordo com Erikson no contexto da teoria
psicossocial de desenvolvimento, os estádios são conceptualizados como
conflitos fundamentais no desenvolvimento do indivíduo, consubstanciados
em oito crises, cuja resolução permite ao indivíduo a sua adaptação ou
mais ou menos eficiente, de acordo com a dimensão que prevalece e o modo
como integra a aprendizagem realizada. Decorrentes da interacção do
indivíduo com o meio em que este está envolvido, verificam-se então oito
crises de desenvolvimento, também denominadas as oito idades do Homem:
1ª idade) A Confiança vs. Desconfiança básica, conceptualizada
como o primeiro estádio ou crise promovida a partir das primeiras
experiências de vinculação e socialização da criança com as figuras
cuidadoras, aprendendo a confiar e a sentir-se seguro ou a desconfiar e
a sentir-se inseguro no contexto da relação interpessoal, à medida que,
através do olhar do outro (através do modo como é olhado e cuidado),
adquire confiança e segurança em si mesmo; 2ª idade) A Autonomia vs.
Vergonha ou Dúvida, caracterizada pela aquisição gradual de
autonomia e exploração do meio com suporte das figuras cuidadoras,
contrariamente à vergonha ou dúvida associadas ao sentimento de
incapacidade do indivíduo, crítica ou dependência excessiva dos
cuidadores; 3ª idade) A Iniciativa vs. Culpa, contextualizada
pelo período pré-escolar e associado à contínua exploração do meio,
expandida pela aquisição de novas competências e capacidades como a
linguagem e o jogo simbólico, em que o indivíduo promove a sua
iniciativa à medida que desenvolve a responsabilidade pela mesma,
interiorizando papéis e limites, podendo estes, por outro lado,
despoletar sentimentos de culpa, inibição ou desadequação quando
configurados em excessiva proibição; 4ª idade) A Indústria vs.
Inferioridade, associada ao início do período escolar e da
aprendizagem em diferentes domínios face aos quais a criança aprende a
sentir-se competente ou, por outro lado, a sentir-se inferior aos seus
pares, isto é, menos capaz de realizar as tarefas propostas; 5ª idade) A
Identidade vs. Difusão de papéis, o estádio associado à
adolescência, em que se verifica a ênfase na construção da identidade do
indivíduo, nomeadamente no que respeita à sua auto-imagem, ao modo como
se perspectiva nos diferentes papéis, integrando-os num todo coerente, e
ao modo como ensaia a transição para a vida adulta; 6ª idade) A
Intimidade vs. Isolamento, crise referente à fase da vida do jovem
adulto, caracterizado pelo desenvolvimento e manutenção de relações de
intimidade, partilha e compromisso com outro indivíduo significativo
emocionalmente, contrariamente ao isolamento que pode decorrer da
dificuldade em estabelecer relacionamentos de proximidade e intimidade;
7ª idade) A Generatividade vs. Estagnação, associada à idade
adulta e conceptualizada como a concretização de acções que contribuem
para a afirmação e sucesso em diferentes áreas da vida (profissional,
pessoal), a par da descentração, produção de um legado para os outros
sob a forma de cuidados ou colaboração com estes, ao invés da
estagnação; 8ª idade) A Integridade vs. Desespero, estádio
referente à fase de vida da idade adulta avançada ou velhice em que o
indivíduo realiza um balanço sobre a sua vida, ponderando sobre o
sentido e significado da mesma, apesar das perdas e de eventuais
objectivos não concretizados, ao invés do desespero face à expectativa
da morte e ao sentimento de vazio ou improdutividade. A perspectiva
psicossocial de Erikson, por se referir ao desenvolvimento ao longo do
ciclo de vida, afigura-se relevante na abordagem ao desenvolvimento
humano, evidenciando que este ocorre em diferentes fases da vida e que
estas resultam da interacção de factores intrapessoais e interpessoais.
A resolução das crises apresenta ainda um valor de adaptação nos
estádios subsequentes, significando que as aprendizagens decorrentes da
adequada resolução da crise, por exemplo nos primeiros estádios de vida
do indivíduo, se afiguram fundamentais não só nesta fase, como em todas
as fases do ciclo de vida (e.g. resolução da crise Confiança vs.
Desconfiança fundamental na resolução inerente a Intimidade vs.
Isolamento) na medida em que se reflectem no seu desenvolvimento
psicológico e no grau de adaptação do indivíduo ao meio.
Referência bibliográfica
Erikson,
E. (1995). Childhood and society.
London: Vintage
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