Conceito de Desporto para Indivíduos com
Deficiência
Apesar da
deficiência ser algo que afecta profundamente o homem na sua dimensão
individual e social, acredito que esta não reduz a sua dimensão humana.
Assim, defendo que há que reclamar em nome dos direitos do homem, o
direito à diferença e mostrar que podemos ser “todos diferentes, mas
todos iguais”.
A
actividade física é um dos principais elementos na busca da qualidade de
vida. A sua prática leva desde melhorias das capacidades físicas de quem
pratica, até uma melhor interacção nas relações sociais (Eichstaedt e
Lavay, 1992).
A ideia
básica é partir sempre do conceito de normalidade e utilizar jogos com
actividade normal, na medida do possível, para sujeitos com necessidades
especiais. Não se trata de criar novos jogos ou formas de trabalho, mas
de fazer um esforço para adaptar os já existentes, viabilizando, assim,
a participação de todos (Duarte e Lima, 2003).
Winnick
(1990) (citado por Tsutsumi, Cruz, Chiarello e col., 2004) definiu
desporto adaptado como sendo um conjunto de experiências desportivas
modificadas ou especificamente designadas para diminuir as necessidades
especiais dos indivíduos com deficiência.
Em 1981,
Potter (citado por Silva, 1992) define o desporto para indivíduos com
deficiência como uma série completa de actividades físicas adaptadas às
capacidades de cada um.
Além disto,
Potter refere ainda que o deficiente é uma pessoa, como todo o cidadão,
com direitos e deveres, pois este existe, sente, pensa e cria, logo, tem
limitações a vários níveis, diferenças no desenvolvimento
bio-psico-social, mas pode desempenhar funções que podem não depender
directamente da sua limitação.
Objectivos e vantagens do Desporto para Indivíduos com
deficiência
O desporto
para indivíduos com deficiência tem como principal objectivo, levar o
deficiente e o “normal” a encontrarem-se num ambiente extremamente
motivador, sensibilizar a população geral e o desenvolvimento da
auto-estima (Eichstaedt e Lavay, 1992).
Em 1975,
Potter refere que são três os efeitos da prática desportiva alcançada
pelo deficiente (Silva, 1992):
-
Fisiológicos:
exploração dos seus limites articulares, controlo do movimento
voluntário, melhoramento da capacidade física e da saúde;
-
Psicológicos:
aumento da auto-confiança, diminuição da ansiedade e melhoramento da
comunicação;
-
Sociais:
contribui para o desenvolvimento da autonomia e (re)integração social.
Em 1977,
Guttmann (citado por Silva,1992) ainda acrescenta a estes, os efeitos:
-
Terapêuticos:
utilizados como complemento da terapia física;
-
Recreativos:
aumento da sua vertente recreativa.
A estes
elementos acrescenta-se ainda a componente preventiva do desporto.
Em 1978,
Loovis (citado por Silva, 1992) refere que efeitos da actividade física
podem trazer aos indivíduos com deficiência múltiplos benefícios, tais
como: aptidão motora, agilidade, aptidão física, ajustamento social/
participação, posição social, imagem corporal, percepção, realizações
académicas, atenção, agilidade manual, prevenção de acidentes ou
doenças, inteligência e controlo verbal.
Tsutsumi,
Cruz, Chiarello e seus colaboradores (2004) corroboram mencionando que o
desporto é tão importante para uma pessoa com incapacidade física quanto
para um indivíduo saudável e que embora nem todos os indivíduos com
incapacidades tenham o desejo de fazer exercício, este traz
efectivamente muitos benefícios.
Actividades Desportivas para Indivíduos com deficiência
Em 1986,
Axelson (citado por Silva, 1992) considerava que as actividades físicas
desportivas para indivíduos com deficiência podiam ser divididas em
cinco categorias, tais como:
-
Competição
segregada (basquetebol em cadeira de rodas);
-
Actividades
não competitivas segregadas (dança em cadeiras de rodas)
-
Participação integrada (maratona);
-
Competição
integrada (regata);
-
Actividades
não competitivas integradas (ciclo-turismo).
Potter
(citado por Silva, 1992), em 1985, classifica as actividades desportivas
de competição em duas categorias:
-
Fase da
actividade física adaptada (competição entre indivíduos com deficiência
com regras adaptadas – metodologias especiais, equipamentos e material
adaptado e uma tecnologia apropriada a cada deficiente).
-
Fase da
integração (integração do deficiente em equipas ditas normais – certas
actividades desportivas podem ser praticadas por indivíduos não
indivíduos com deficiência sem necessitarem de alguma adaptação por
exemplo, judo com indivíduos com deficiência intelectuais ligeiros e
tiro com arco com indivíduos com deficiência motores).
exemplos de actividade física para alguns tipos de
deficiência
-
Indivíduos
invisuais ou com baixa visão:
No desporto
adaptado, ocorre a separação dos atletas em três grupos: no primeiro, B1
(o B vem da palavra inglesa blind), ficam agrupados desde as pessoas que
não têm percepção luminosa até as que percebem um vulto, mas não
conseguem distinguir a forma deste. No segundo grupo, B2 ficam as
pessoas que apresentam um resíduo visual, com a capacidade de definir o
formato de uma mão até a acuidade visual de 2/60 metros, ou campo visual
de até 5 graus. O terceiro grupo, B3, é formado por pessoas que
apresentam acuidade visual entre os 2/60 e os 6/60 metros ou um campo
visual entre os 5 e 20 graus (IBSA, 2000 citado por Duarte e Lima,
2003).
Atletismo:
É composto por provas de campo, pista e rua em que estas são realizadas
da forma convencional, com a excepção das provas com barreira,
lançamento de martelo, salto com vara e marcha atlética (Duarte e Lima,
2003).
As
principais adaptações às regras para os cegos são: a implementação de
auxílios sonoros realizados pelos guias nas provas de saltos, arremessos
e lançamentos. Esses guias fornecem informações especiais, tais como: a
distância aproximada do deslocamento e a direcção, cuja orientação pode
fazer-se através de ruídos, palmas e/ou palavras (Duarte e Lima, 2003).
Nas provas
de pista a principal adaptação será a utilização de um corredor ou guia
que irá acompanhar o cego durante a corrida. Esse acompanhante fornece
informações verbais através da fala, cinestésicas através do contacto do
guia com o cego e também através de uma corda que ligará o guia ao
atleta cego. Na ausência de uma corda pode usar-se como meio de
transmitir informação a condução pelo braço do cego ou o guia a segurar
no equipamento do cego sem, no entanto, poder puxar ou empurrar de
maneira a retirar o protagonismo do atleta (Duarte e Lima, 2003).
Através dos
instrumentos sonoros (apitos, chaves, rádios, gravadores, ruídos) ou
palmas, pode-se também, além de estimular a audição (variando a
intensidade do ruído), cujo auxílio permite a construção do referencial
espacial do indivíduo, melhorar a sua performance ao atravessar uma rua
ou ao defrontar-se com situações novas (Comité Paraolímpico Espanhol,
1994, citado por Duarte e Lima, 2003).
Com o
tempo, os próprios sujeitos podem vir a ser os guias e o próprio grupo
pode autogerir a actividade. Dessa forma, realiza-se o exercício com ou
sem um profissional junto, mas essas situações requerem tempo e
confiança (Lockette e Keyes, 1994).
-
Indivíduos
com paralisia cerebral:
Para
Rosadas (1992) (citado por Duarte e Lima, 2003), o trabalho de
actividade física para pessoas com paralisia cerebral é um meio de
viabilizar condições para execução de determinados gestos e respostas,
de modo a que estas possam vivenciar o seu corpo, desenvolvendo os
aspectos motor, cognitivo e afectivo, inter-relações essas
indispensáveis para a compreensão e aceitação de si próprio, das duas
limitações e das suas possibilidades.
A
actividade física e o desporto adaptado para pessoas com paralisia
cerebral, além de terem como objectivos o lazer e a competição são tidos
sobretudo como aceleradores do processo de reabilitação (Lockette e
Keyes, 1994) .
Duarte e
Lima (2003) acreditam que a prática desportiva pode mesmo auxiliar a
melhorar o equilíbrio e a coordenação de pessoas com paralisia cerebral.
Booling:
Colocam-se num espaço plano e com delimitações umas garrafas de plástico
e dá-se aos indivíduos bolas de trapos. Cada indivíduo tentará derrubar
o maior número de garrafas através do lançamento com as bolas de trapos.
A distância entre as garrafas e o indivíduo será de 3 metros e este terá
direito a três lançamentos. Vence o indivíduo que, na soma das vezes,
derrubar maior número de garrafas.
Natação:
Dificilmente se encontra uma piscina que tenha sido construída para o
uso por pessoas com deficiência, no entanto, com algum trabalho podem
fazer-se adaptações que permitam o uso para estas pessoas (Tsutsumi,
Cruz, Chiarello e colaboradores, 2004).
A natação é
um dos desportos mais apropriados para indivíduos com algum tipo de
deficiência, devido aos benefícios e às facilidades proporcionadas pela
execução de movimentos com o corpo imerso na água (Tsutsumi, Cruz,
Chiarello e colaboradores, 2004).
Bibliografia:
- Bento, J.
& Marques, A. (1991). As Ciências do Desporto e Prática Desportiva.
Porto: Universidade do Porto
- Cruz, J.
(1996). Manual de Psicologia do Desporto: Sistema Humanos e
Organizacionais. Braga
- Duarte,
E. & Lima, S. (2003). Atividade Física para pessoas com Necessidades
Especiais. Rio de Janeiro: Guanabarra Koogan
-
Eichstaedt,
C. & Lavay, B. (1992). Physical Activity for Individuals with Mental
Retadation. Illinois: Human Kinetics Books
-
Lockette,
K. & Keyes, A. (1994). Conditioning with Physical Disabilities.
Chicago: Human Kinetics
-
Morgan,
W. & Goldston, S. (1978). Exercise and Mental Health.
Washington: Hemisphere Publishing Corporation
-
Silva,
A. (1992).
Desporto
para deficientes.
Câmara Municipal do Porto
- Tsutsumi,
O., Cruz, V. Chiarello, B. e colaboradores (2003). Os Benefícios da
Natação Adaptada em Indivíduos com lesões Neurológicas, Revista de
Neurociências. São Paulo. Vol.12, Nº2
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