Conceito de Alexitimia
Definida por alguns como sendo um transtorno cognitivo
específico do processamento da informação emocional
(Martínez-Sánchez & Castro, 1994, citado por Sánchez &
Serrano, 1997; Hund & Espelage, 2005) ou como um
transtorno cognitivo-afectivo (Posse, Hallstrom, &
Ohsako, 2004; Torres & Guerra, 2003; Vidigal, 2004),
a ALEXITIMIA foi o termo proposto por Sifneos, em 1972/73, para designar
um conjunto de características afectivas e cognitivas reconhecíveis
sobretudo no estilo comunicativo (Prazeres, 2000;
Eizaguirre, Cabezón, Alda, & Méndez, 2001; Lumley, Gustavson, Partridge,
& Labouvie-Vief, 2005; Maciel & Yoshida, 2006).
No entanto, e como vários autores mencionam, esta simples
tradução não define correctamente o que se entende por alexitimia,
porque os indivíduos não são totalmente incapazes de expressar
verbalmente as suas emoções, nem deixar de reconhecer quando as
experienciam.
Prazeres (2000) e Vidigal (2004) referem que o problema
presente da alexitimia não é o de possuir ou não um vocabulário
afectivo, mas antes a forma como é utilizado. O que na verdade acontece
é que o acesso à mentalização e elaboração psíquica dos conflitos e
tensões internas parece estar comprometido (Lolas,
1989 & Salminen, 1995 & Taylor, 1994, citado por Prazeres, 2000).
A caracterização dos indivíduos alexitímicos varia
ligeiramente, no entanto, é possível estabelecer-se quatro
características que podem estar presentes, sendo elas a incapacidade ou
dificuldade em identificar e descrever os próprios sentimentos, a
dificuldade em descrever sentimentos aos outros, a incapacidade ou
dificuldade em diferenciar sentimentos de sensações corporais ou
fisiológicas que acompanham a activação emocional e a escassez ou
ausência de capacidade de fantasiar e preocupação com os acontecimentos
externos mais do que com as experiências internas, isto é, um estilo
cognitivo concreto
e baseado somente na realidade, no exterior (pensamento operatório) (Nuñez & Valdés, 1988,
citado por Sánchez & Serrano, 1997; Nemiah & Sifneos, 1970, citado por
Fernandes & Tomé, 2001; Nemiah, Freyberger, & Sifneos, 1976, citado por
Almeida & Machado, 2004; Wiethaeuper, Balbinotti, Pelisoli, & Barbosa,
2005).
A discussão sobre a etiologia da alexitimia ainda hoje se
mantém e para a explicar melhor muitos foram aqueles que levantaram
diversas hipóteses e teorias, tais como as de ordem neurofisiológica,
psicológica, sócio-cultural, mas sem que se tenha conseguido chegar a um
consenso.
Outra das questões ainda por
responder, ou seja, em que
as certezas são poucas, é a definição da alexitimia como um traço
de personalidade ou como um estado do indivíduo.
Além destas divisões, a
alexitimia foi também dividida
por vários autores em alexitimia primária e alexitimia
secundária.
Como se pode depreender, são várias as áreas afectadas
pela alexitimia, principalmente a área afectiva, a área
cognitiva e a área relacional.
Alexitimia – traço ou estado
Salminen
e colaboradores
(1994, citado por Posse
et al., 2004),
através de um estudo de seguimento de um ano em pacientes de ambulatório
num hospital psiquiátrico, foram dos primeiros a defini-la como um
traço de personalidade pelo seu carácter duradouro.
Outros
defensores da alexitimia como um traço de personalidade são os
investigadores que se baseiam na teoria neurofisiológica e alguns dos
defendem uma teoria explicativa psicodinâmica
(Eizaguirre et al.,
2001).
Estudos
precedentes
encontraram indícios de que a alexitimia é constituída por componentes
reversíveis que apontam para uma definição da alexitimia como um
estado, por exemplo em indivíduos com perturbações de pânico, fobia
social, depressão, entre outras
(Fukunishi et al., 1997 &
Horton, Gerwirtz, & Kreutter, 1992, citado por Sánchez & Serrano, 1997;
Yoshida, 2000; Posse et al.,, 2004).
Alexitimia - primária e secundária
A alexitimia primária,
correspondente
a um traço de personalidade
(Pedinielli & Rouan, 1998, citado por Maciel & Yoshida, 2006),
surgiria
na infância
devido a um trauma decorrente da incapacidade da mãe ou figura cuidadora
em assegurar e impedir que tensões insuportáveis e difíceis de lidar
surgissem. Este trauma, comprometeria a utilização de canais
sublimatórios e simbólicos necessários para a elaboração de experiências
afectivas
(Bion, 1991 & Graham, 1988, citado
por Prazeres, 2000).
Por conseguinte, a alexitimia primária representaria uma característica
estável da personalidade e uma possível explicação
para
a
suposta
ausência
de vida onírica em indivíduos aletitímicos
(Bion, 1991 &
Graham, 1988, citado por Prazeres, 2000; Freyberger, 1977, citado por
Fernandes & Tomé, 2001; Gil & Portellano, 2005).
A alexitimia secundária,
caracterizada
como um estado devido
à sua natureza transitória, ocorreria como um mecanismo de
defesa
contra
emoções
intensas
decorrentes
de uma situação grave de doença
(Freyberger, 1977, citado por Fernandes & Tomé, 2001) ou
devido
a tensões insuportáveis devido a situações traumáticas na vida adulta.
Alexitimia – áreas afectadas
Área Afectiva
As emoções são geralmente vagas e
pouco
diferenciadas e os estados emocionais são basicamente somáticos.
Dificuldade de reconhecer e
descrever
os
sentimentos
e para descriminar entre estados emocionais.
Área Cognitiva
Pensamento caracterizado
por uma descrição ao pormenor de acontecimentos externos e com uma
ausência de capacidade fantasmática, ou pelo
menos o seu não relato, ou relato tendo sempre características de
pensamento operatório.
Área Relacional
Estes indivíduos mantêm relações de cariz simplesmente utilitário e
pragmático, sem praticamente qualquer tipo de manifestação
afectiva
e pautadas de uma reduzida capacidade de empatizar e compreender o
outro.
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