Conceito de Esgana Canina
É
uma doença
viral altamente contagiosa com distribuição
mundial1. O agente etiológico
é
o vírus
da esgana canina (CDV, do inglês
Canine Distemper Virus), um vírus
RNA da família
Paramyxoviridae e do género
Morbillivirus, semelhante ao vírus
do sarampo1,2. Este vírus
afeta diversas espécies
de carnívoras,
nomeadamente as famílias
Canidae, Mustelidae e Procyonidae1,2, grandes felinos (chita,
leão,
jaguar, gato-maracajá,
ocelote) e outras especíes,
como o urso, o panda, a hiena e o mangusto1.
É
mais comum em canis e em cães
vadios não
vacinados que podem interagir com animais selvagens infetados2.
O vírus
não
sobrevive durante muito tempo no ambiente, sendo suscetível
a desinfetantes que contenham fenóis
e amónia
quaternária1,2.
Os animais infetados devem ser isolados1,2 e devem ser
tomadas medidas de higiene apropriadas1.
Este
vírus
afeta animais de todas as raças
e idades1,2, ainda que seja mais comum dos 2 aos 6 meses,
especialmente em cães
não
vacinados que já
perderam a imunidade conferida pelo colostro materno1. A
transmissão
faz-se por via oronasal, através
das secreções
respiratórias,
vómito,
fezes, urina e fomites, assim como pela inalação
de aerossóis
expelidos nos espirros e tosse1,2. O período
de incubação
é
de 1 a 3 semanas e os hospedeiros libertam o vírus
7 a 10 dias depois da exposição2.
A libertação
termina 1 a 2 semanas depois da cura, ainda que seja possível
que dure de 60 a 90 dias1.
A patogenia,
severidade da doença
e taxa de mortalidade dependem da idade e resposta imunitária
do hospedeiro, tal como da estirpe do vírus1,2.
Após
a infeção,
o vírus
replica-se localmente nos macrófagos
e monócitos
do epitélio
do trato respiratório,
nas tonsilas e nos linfonodos regionais2. Quatro a 6 dias
depois há
um período
de virémia,
com infeção
dos tecidos linfóides,
coincidindo este período
com um primeiro pico de febre e com o aparecimento de linfopénia2.
A segunda virémia
e o segundo pico de febre ocorrem dias depois, com infeção
de células
epiteliais em diversos
órgãos
e do Sistema Nervoso Central (SNC)2. Este segundo período
de virémia
coincide geralmente com o aparecimento de sinais clínicos1.
Nos 9 a 14 dias seguintes, a evolução
clínica
é
determinada pelas resposta imunitária
do hospedeiro1,2. Pode haver recuperação
total, doença
clínica
multissistémica
severa ou doença
do SNC1. Caso a resposta imunitária
seja fraca, o vírus
dissemina-se rapidamente para a pele,
órgãos
epiteliais e grandulares e para o SNC, provocando uma encefalomielite
aguda1. Surgem sinais clínicos
multissistémicos,
com um segundo pico de febre, com risco de morte especialmente para
cachorros1. Se a resposta imunitária
for parcial, os sinais multissistémicos
são
moderados, ou até
mesmo inexistentes, mas pode desenvolver-se encefalomielite crónica,
com aparecimento de sinais neurológicos
retardados1 (1 a 3 semanas após
recuperação
ou até
vários
meses mais tarde)2. Num hospedeiro com uma resposta imunitária
forte, a infeção
é
subclínica,
com recuperação
completa1. Mais de 50% das infeções
são
deste tipo, no entanto há
sempre o risco de doença
do SNC, com sinais neurológicos
retardados1,2.
Os sinais
clínicos
são
multissistémicos
e variados e incluem letargia, anorexia, desidratação,
febre (39,5 - 41º
C) e sinais respiratórios
iniciais (secreções
oculonasais sero ou mucopurulentas e tosse)1,2. Pode haver
pneumonia, com tosse produtiva, taquipneia e dispneia1,2 e
caso seja complicada por infeção
bacteriana pode ser fatal em cachorros2. Podem também
ocorrer sinais de gastroenterite aguda (vómito
e a diarreia)1,2, sinais associados a disfunção
urinária
ou renal2, sinais oculares (fotofobia, uveíte
anterior, coriorretinite, cegueira), erupções
cutâneas
postulares, hiperqueratose nasodigital, osteosclerose metafisária
(especialmente em cães
jovens de grande porte), hipoplasia do esmalte dentário
(em cachorros, antes da erupção
dos dentes definitivos), sinais neurológicos
(convulsões,
ataxia, hipermetria, paraparésia,
tetraparésia,
dor cervical severa, mioclonias generalizadas ou localizadas)1,2
e cardiomiopatia viral em infeções
neonatais (cachorros com menos de 7 dias)1. Cães
que apresentam lesões
pustulares parecem ter menor probabilidade de apresentar sinais neurológicos1,2,
enquanto cães
com hiperqueratose nasodigital parecem ter uma maior probabilidade de
envolvimento do SNC2. O aborto, morte neonatal e a doença
neorológica
são
consequências
possíveis
da infeção
transplacentária/neonatal2.
O diagnóstico
é
normalmente obtido a partir dos sinais clínicos
e anamnese. No entanto, alguns exames podem ajudar a consolidar o diagnóstico:
observação
de inclusões
virais no interior de monócitos,
linfócitos,
eritrócitos
e neutrófilos
em esfregaços
sanguíneos,
ainda que tais inclusões
possam desaparecer 1 a 2 semanas após
o início
dos sinais clínicos;
hemograma apresentando linfopénia1,2
e leucocitose com neutrofília
associada a infeção
bacteriana secundária1;
análises
bioquímicas
apresentando hipoalbuminémia
e hipoglobulinémia;
radiografias torácicas
podem com padrão
intersticial ou alveolar, se existir pneumonia; análise
do líquido
cefalorraquidiano apresentando uma contagem elevada de linfócitos
e monócitos
e uma concentração
de proteínas
variável,
assim como título
de anticorpos anti-CDV mais elevado do que o do soro sanguíneo1,2.
Outros métodos,
como a deteção
do antigénio
viral por imunohistoquímica
ou imunofluorescência,
a deteção
do vírus
por RT-PCR e a deteção
de anticorpos anti-CDV através
da serologia podem também
ser utilizados.
É
de salientar que alguns destes exames não
são
muito acessíveis
na prática
clínica
e que os falsos negativos são
comuns nas técnicas
de virologia1.
O tratamento
para a esgana
é
sintomático
e de suporte1,2. Se existir vómito
e diarreia
é
necessária
fluidoterapia, administração
de antieméticos
e antidiarreicos e restrição
da alimentação;
as infeções
bacterianas secundárias
são
tratadas com antibióticos;
as convulsões
devem ser controladas com fármacos
anticonvulsivos1,2.
Quando
há
recuperação
total o hospedeiro adquire imunidade durante um longo período
de tempo, por vezes durante toda a vida2. Como os sinais
neurológicos
tardios são
uma possibilidade, o prognóstico
é
sempre reservado1,2. Os défices
neurológicos
são
progressivos e irreversíveis,
com sinais neurológicos
graves e incapacitantes, podendo em alguns casos ser aconselhável
a eutanásia1.
A prevenção
é
de extrema importância
e todos os cachorros devem ser vacinados1, sendo a vacinação
anual recomendada.
Referências:
1.
Sherding
RG. Canine Distemper. In: Birchard S, Sherding R, ed. by. Saunders
manual of small animal practice. 3rd ed. St. Louis, Mo.: Saunders
Elsevier; 2006. p. 154-157.
2.
Crawford
P, Sellon R. Canine Viral Diseases. In: Ettinger S, Feldman E, ed. by.
Textbook of veterinary internal medicine. 7th ed. St. Louis, Mo:
Elsevier Saunders; 2010.
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