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O que é a Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer é uma doença do
cérebro, de causas ainda desconhecidas, de instalação insidiosa e com
agravamento progressivo, lento e irreversível, tendo sido descrita em
1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Começa por destruir a
memória e posteriormente todas as restantes funções mentais, levando
gradualmente à total perda de autonomia. Gradualmente os doentes
tornam-se incapazes de realizar tarefas simples, perdem-se facilmente,
deixam de reconhecer pessoas próximas, ficam incontinentes e quase
sempre acabam por ficar acamados, podendo sobreviver entre os dois e os
quinze anos.
Apesar de relacionada com a idade, a
doença de Alzheimer pode afetar pessoas com idade inferior a 50 anos. O
seu diagnóstico é efetuado por exclusão de outras doenças com sintomas
semelhantes, não existindo tratamento eficaz nem possibilidade de
prevenção. No início da doença o doente sofre porque tem consciência da
mesma, procurando muitas vezes ocultá-la e manifestando alterações de
temperamento e de personalidade ou caindo em depressão.
Diagnóstico e tratamento
(por Sara Pinheiro)
Numa
pessoa viva, não existe um teste de diagnóstico preciso que confirme a
Doença de Alzheimer. O diagnóstico de uma provável presença desta doença
é alcançado pela exclusão de outras condições que podem explicar os
sintomas observados. Atualmente,
a ferramenta de diagnóstico mais importante para os médicos são os
testes neuropsicológicos e do estado mental.
Nos
doentes de Alzheimer podemos encontrar níveis alterados de proteínas
denominadas como marcadores para a Doença
de Alzheimer que podem ser medidos no
líquido céfalo-raquidiano (LCR). Os níveis desta alteração refletem a
extensão dos danos axonais e da degeneração neuronal. Assim, combinando
a medição desses marcadores, pode identificar-se Doença de Alzheimer em
doentes com comprometimento cognitivo com uma precisão relativamente
elevada. No entanto, os marcadores no LCR para a Doença de Alzheimer não
devem usar-se isoladamente. Ou seja, os testes e o diagnóstico clínico
da Doença de Alzheimer devem basear-se na informação cumulativa
adquirida pela examinação clínica, imagem cerebral e análises
bioquímicas.
Contudo,
um diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer requer não só a
presença de demência severa mas também a confirmação post-mortem.
Em autópsias, quando o cérebro de um doente de Alzheimer é examinado ao
microscópio é possível observar células anormais e estruturas celulares,
emaranhados e placas, particularmente em áreas do cérebro relacionadas
com a memória. Os estudos post-mortem de cérebros de doentes de
Alzheimer mostram uma atrofia cortical com uma perda de 8 a 10% do peso
cerebral em cada dez anos da progressão da doença.
No que
respeita ao tratamento para a
Doença de Alzheimer, depende da descoberta dos mecanismos celulares
responsáveis pela expressão da demência e pelos sintomas inicias da
memória. Até agora, não existe um tratamento eficaz que possa prevenir a
progressão da Doença de Alzheimer pois as drogas disponíveis apenas
podem impedir o agravamento dos sintomas. Nas últimas três décadas, os
padrões de tratamento para a Doença de Alzheimer têm sido inibidores da
acetilcolinesterase (enzima responsável pela degradação de acetilcolina,
o principal neurotransmissor responsável pelos neurónios envolvidos
nesta doença) para melhorar a função cognitiva. Recentemente, a
memantina, um antagonista dos receptores do N-metil-D-aspartato (rNMDA –
receptores do glutamato, outro dos principais neurotransmissores
implicados na Doença de Alzheimer) é um agente potencialmente
neuroprotetor e tem sido também amplamente usado. O tratamento pode
também passar pela utilização de outras drogas para manipular a
perturbação de humor, agitação e psicose que normalmente ocorrem nos
estágios mais tardios desta doença, como por exemplo inibidores da
recaptação de serotonina.
Mecanismos moleculares
(por Sara Pinheiro)
Independentemente da etiologia, a Doença de Alzheimer é
histopatologicamente caracterizada pela presença de placas senis (SPs) e
por numerosos emaranhados neurofibrilares (NFTs).
A Doença de Alzheimer
é ainda caracterizada patologicamente pela morte neuronal e pela perda
das conexões sinápticas em determinadas regiões cerebrais (como o
hipocampo). Deste modo, a perda de
memória está potencialmente associada com a diminuição de conexões
intraneuronais e a uma diminuição do comprimento das dendrites. As
sinapses do hipocampo começam a diminuir nos doentes com défice
cognitivo ligeiro (défice cognitivo que normalmente precede a demência).
Além disso, o envelhecimento por si só causa a perda sináptica que
afecta particularmente a região do hipocampo. Com a idade existe um
decréscimo na fluidez das membranas celulares pelo que a membrana se
torna cada vez menos resistente a uma variedade de agressões que afectam
determinadas vias de transdução de sinais levando a um desequilíbrio de
fosforilação/desfosforilção de proteínas nos neurónios afectados.
Verifica-se também uma perda neuronal significativa no núcleo
colinérgico do forebrain basal que projetam para as áreas do
córtex e contribui para os défices de neurotransmissão colinérgica que
se observa nesta doença, e que contribui em parte para o declínio da
memória.
As
SPs são depósitos extracelulares de proteína amilóide-beta (βA)
derivados da Proteína Precursora Amilóide (βAPP).
A forma mais comum do βA é constituída por 40
aminoácidos, por isso denominado βA40. Outra
das formas, esta menos abundante, constituída por 42 aminoácidos, o
βA42, difere do βA40
precisamente por conter apenas mais 2 resíduos de aminoácidos no seu
C-terminal. O βA42 representa a forma
predominante deste péptido depositado nas SPs.
Os
NFTs são redes de filamentos compactos encontrados principalmente no
hipocampo, córtex entorrinal e células da amígdala, sendo compostas por
proteína tau. A proteína tau hiperfosforilada, resultante do
desequilíbrio entre sistemas de proteínas cinases e fosfatases, foi
referida como o principal componente dos filamentos helicoidais
emparelhados (PHFs – paired helical filaments), que são elementos
insolúveis do citoesqueleto com uma elevada atividade de autoagregação
que contribui para a formação dos.
Os
neurónios com emaranhados neurofibrilares são frequentemente encontrados
na proximidade dos depósitos de amilóide e o seu aparecimento temporal e
espacial reflete mais a severidade da doença do que o aparecimento das
placas amilóides. Contudo, os emaranhados neurofibrilares não são
específicos da Doença de Alzheimer, sendo encontrados também em outras
doenças (por exemplo, panencefalite subaguda esclerosante e paralisia
supranuclear progressiva) não associadas com a disfunção cognitiva e
perda de memória que caracteriza a Doença de Alzheimer.
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