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Água e outros solventes na expressão da constante de equilíbrio
Nos sistemas reacionais em meio aquoso (em que a água é utilizada como
solvente), é admitido que a concentração da água seja constante pois, em
comparação com outros reagentes, a sua concentração não sofre mudanças
consideráveis. Tendo 1 mol de água aproximadamente 18 g, e um litro de
água aproximadamente 1000 g, a sua concentração molar é de 55,6 mol/L,
muito superior às de quaisquer outros intervenientes, que na
generalidade se apresentam com concentrações inferiores a 1 mol/L. Ao
ser tratada como constante, a água não é um fator importante numa razão
de equilíbrio. Assim, a qualquer expressão da constante de equilíbrio de
uma reação é-lhe retirada a concentração do solvente.
[1]
Direção da Reação
Se forem consideradas as
concentrações iniciais de cada componente, obtém-se um quociente, Q, que
difere de K apenas por não serem usadas concentrações de equilíbrio. Por
exemplo, para a reação acima:
(2)
A partir dos valores de
Q e K, pode-se prever a direção duma reação. Esta tenderá para a
formação de produtos se Q<K, e para a formação de reagentes se Q>K. Se
Q=K, o sistema reacional já se encontra em equilíbrio. No exemplo
estudado, Q<K.
[1]
Vale ainda salientar que
se K>1, há mais produtos do que reagentes em equilíbrio. Analogamente,
se K<1, então, em equilíbrio, há mais reagentes que produtos.
[1]
Catálise
O uso de catalisadores
num determinado meio reacional tem a função de favorecer a velocidade de
reação, no entanto estes não modificam o ponto de equilíbrio, apenas
fazem com que esse equilíbrio seja atingido em menos tempo.
[1]
Equilíbrio Homogéneo
O equilíbrio homogéneo
diz respeito a reações em que todos os intervenientes estão no mesmo
estado físico.
Equilíbrio no estado gasoso – Relação entre Kp e Kc
Para reações no estado
gasoso, na expressão da constante de equilíbrio podem figurar as
pressões parciais dos gases em vez das concentrações, pois a pressão dum
gás é proporcional com a sua concentração, como demostra a equação dos
gases ideais, na qual
p é a pressão, V o volume, n o número de moles,
R a constante dos gases, T a temperatura e consequentemente
n/V a concentração do gás.
(3)
Assim,
numa reação com todos os intervenientes gasosos, na qual seja conhecida
a constate de equilíbrio Kp, poder-se-á representar o
equilíbrio como:
(4)
com Pgc
a ser a pressão parcial do gás g com o coeficiente estequiométrico c.
[1]
Não
quer isto dizer que para os gases não se possa usar a expressão da
constante de equilíbrio (1), tudo depende se os dados relativos a cada
componente estão em pressões ou em concentrações, o que faculta uma
maior margem de manobra.
Na
realidade, como desenvolvido acima, a concentração de um gás assume uma
relação de proporcionalidade direta com a sua pressão parcial e, por
isso, é possível chegar a uma relação entre Kp e K (também
designado Kc), como demostra a próxima dedução até à equação
(5):

Equilíbrio Heterogéneo
O
equilíbrio
heterogéneo está relacionado com reações de equilíbrio de espécies em
diferentes estados físicos. Um exemplo é a reação de aquecimento do
carbonato de cálcio num recipiente fechado:

É de salientar que a concentração de um sólido pode ser retirada da sua
massa volúmica (ρ). Para o cálcio, ρ= 1550 kg/m3 = 1550 g/L e
a massa molar é de 40,08 g/mol, resultando numa concentração molar de
38,67 mol/L. Como é muito improvável que os sólidos sofram mudanças
apreciáveis (1 kg de sólido tem a mesma massa volúmica/concentração que
1 g do mesmo), [CaCO3] e [CaO] são considerados constantes e
o valor de K não está dependente destes, desde que haja alguma
quantidade de cada um em equilíbrio.
[1]
Esta simplificação traduz-se numa das seguintes equações:

Em termos práticos, pode
afirmar-se que em reações heterogéneas são contabilizados para o cálculo
da constante de equilíbrio apenas gases e soluções aquosas, esquecendo
quaisquer sólidos ou líquidos puros. Os solventes também nunca estão
presentes na expressão da constante de equilíbrio de reações homogéneas.
[1]
Equilíbrios Sucessivos
Este modelo envolve uma cadeia de reações reversíveis e, portanto, uma
série de diferentes equilíbrios. Nas equações de reacção

os produtos C e D, formados a partir da reação de A com B, ainda servem
como reagentes para formar E e F.
[1] As equações da
constante de equilíbrio são:

Esta sucessão de reações tem como reação global a soma das reações,
atendendo que os reagentes são consumidos (-) e os produtos são formados
(+).

Ou
seja, a reação global será:

com K global a ser o produto dos k das reações parciais.
[1]
(6)
Resumindo, qualquer reação que possa ser expressa como a soma de duas ou
mais reações, tem como constante de equilíbrio global o produto das
constantes das reações individuais.
[1]
Relação com cinética química
A cinética química é o estudo da velocidade das reações e dos fatores
que lhe estão associados. O carácter da cinética química mais
respeitante para o tema do equilíbrio químico é que a velocidade de uma
reação e a concentração das espécies reacionais são termos diretamente
proporcionais, já que uma maior concentração de moléculas conduz a maior
colisão, consequentemente maior velocidade de conversão, esta que reduz
à medida que essas mesmas moléculas escasseiam. Numa equação reacional
reversível

a velocidade da reação direta é dada por
(7)
e a da reação inversa por
(8)
nas quais, kf e kr são as constantes de velocidade
para as reações direta e inversa. [1] Em equilíbrio, as
velocidades são iguais, o que significa que

Fatores que afetam o equilíbrio
Apesar de haver um balanço definido entre reações diretas e inversas,
por vezes este balanço é perturbado. Os principais parâmetros
perturbadores do equilíbrio são a concentração, a pressão, o volume e a
temperatura.
[1]
O princípio de Le
Châtelier afirma que se for imposta uma alteração a um sistema químico
em equilíbrio, a composição do sistema deslocar-se-á no sentido de
contrariar a alteração a que foi sujeita.
[1]
Concentração
Se ao sistema for
aumentada a concentração de determinada espécie, o maior número de
moléculas desta espécie estará mais propícia a reagir, equilibrando a
favor do seu consumo.
[1]
Se a dois reagentes A e
B for adicionada uma espécie C que tenha afinidade com o reagente A, a
reação AB será prejudicada e atingir-se-á o equilíbrio com alguma
dissociação de AB e formação de AC.
[1]
Pressão e Volume
Esta alteração afeta
apenas gases (sólidos e líquidos são praticamente incompressíveis) e, de
acordo com a equação (3) dos gases ideais, pressão e volume são
inversamente proporcionais, isto é, um diminui se o outro aumentar.
Tomando de novo como exemplo a reação de equilíbrio do N2O4
com o NO2, é observável que uma diminuição no volume do
reator afeta de forma diferente cada uma das espécies na equação da
constante de equilíbrio, já que a concentração do dióxido de azoto está
elevada ao quadrado, ou seja, a pressão do NO2 aumenta mais
que a do N2O4.
[1]

Esta
perturbação provocará uma alteração no valor de Q e o sistema vai
alterar até que o valor de Q se iguale ao de K.
Na
generalidade dos casos, um aumento de pressão por diminuição de volume
equilibra-se pela diminuição do número de moléculas e uma diminuição de
pressão por aumento de volume equilibra-se pelo aumento do número de
moléculas. Caso não seja possível alterar o número de moléculas, uma
variação de pressão ou volume não altera o equilíbrio. [1]
Outro
cenário de alteração de pressão seria a adição de um gás inerte num
reator de volume fixo a um sistema já em equilíbrio. A pressão total do
sistema iria aumentar, no entanto, pela lei de Dalton, a pressão parcial
de cada gás manter-se-ia constante, não interferindo com o equilíbrio.
[1][2][3]
Temperatura
Alterações na temperatura influenciam fortemente a direção de uma reação
e a presença de mais ou menos calor favorece o sentido da reação que é
endotérmica (consome energia) ou da que é exotérmica (liberta energia),
respetivamente. É previsível saber se uma reação é endotérmica ou
exotérmica pelo valor de ΔHo, a entalpia padrão da reação,
que, se for positiva, significa que a reação é desencadeada pelo consumo
de energia (endotérmica); se for negativa, a reação é espontânea e
liberta energia na forma de calor (exotérmica). [1]
Numa
reação de equilíbrio, se há um sentido endotérmico, o sentido oposto é
inevitavelmente exotérmico. Assim, uma temperatura baixa dificulta o
desenvolvimento do sentido endotérmico de uma reação, inclinando o
equilíbrio, da mesma forma que uma temperatura muito elevada faz
disparar a reação endotérmica. Desta forma, a manipulação da temperatura
pode tornar-se útil para favorecer a formação de um ou outro componente.
[1]
Por
força disto, o estudo do equilíbrio está integralmente dependente do uso
de uma temperatura-padrão invariável, já que este é o único fator que
efetivamente altera o valor da constante de equilíbrio de uma reação.
[1]
Referências
[1] CHANG, “Chemistry”, 10ª Edição, Nova Iorque, McGraw-Hill, 2010, ISBN
9780073511092.
[2]
http://www.raco.cat/index.php/Ensenanza/article/download/21395/93354
[3]
http://nautilus.fis.uc.pt/wwwqui/equilibrio/port/hipertexto/eqq_hiper_texto_04_5.html |