Conceito de
Biopolímero
Definição
Segundo a definição da
IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemists) um biopolímero
é um polímero produzido por organismos vivos, incluindo proteínas,
polissacarídeos e ácidos nucleicos (ADN e ARN). Os biopolímeros são os
tijolos base da vida, sendo os componentes mais importantes da
infra-estrutra de uma célula e desempenhando papéis essenciais na
regulação e replicação da mesma.
O termo “biopolímero”
é muitas vezes usado de forma errónea, mesmo em publicações científicas
respeitadas. Apesar de a definição oficial da IUPAC reservar o termo
“biopolímero” apenas para aqueles de origem natural, é comum encontrar
na literatura vários artigos que chamam “biopolímero” a qualquer
polímero biodegradável, ainda que seja de origem sintética. Ora,
“biodegradável” indica apenas que um dado material pode ser degradado
através de actividade biológica, seja este material de origem natural ou
sintética. Um outro uso errado do termo é considerar como “biopolímero”
um polímero sintético cujos monómeros foram produzidos a partir de uma
fonte natural e renovável, como é o caso do ácido poliláctico (PLA).
Neste caso a IUPAC recomenda que se utilize o termo “material de base
biológica”. Estes novos materiais derivados da biomassa não são
necessariamente biodegradáveis ou sustentáveis, ao passo que os
biopolímeros o são, sempre.
Classes de
biopolímeros
As três principais
classes de biopolímeros são as proteínas, constituídas por aminoácidos,
os polissacarídeos, cadeias poliméricas de açúcares e os ácidos
nucleicos, formados por nucleótidos.
O termo proteínas
refere-se a cadeias formadas por 50 ou mais aminoácidos ligados entre si
por ligações peptídicas. Uma característica clássica das proteínas é a
sua intrincada estrutura tridimensional, mantida através de interacções
não-covalentes estabelecidas entre os aminoácidos da sua cadeia.
Num sistema vivo,
diferentes proteínas desemprenham diferentes papéis. Proteínas
estruturais, como o colagénio, elastina e queratina, são os
constituintes base de ligamentos, pele e unhas. A sua estrutura tende a
ser helicoidal ou em folha-beta. Várias cadeias destas proteínas
agrupam-se para formar fibras.
Muitas outras
proteínas, incluindo as enzimas, tendem a assumir estruturas globulares,
onde a cadeia primária se dobra sobre si mesma num padrão bem definido
adquirindo uma forma aproxidamente esférica. No caso das enzimas,
proteínas capazes de quebrar selectivamente ligações covalentes, a
estrutura é fundamental, sendo que se esta se alterar por acção do meio
envolvente (temperatura, modificações químicas, etc) a enzima perde a
sua funcionalidade.
Na Tabela 1
encontra-se uma curta lista de proteínas communmente encontradas em
sistemas vivos, assim como as suas funções nos mesmos.
Tabela 1 - Proteínas encontradas na natureza e
respectivas funções
|
Proteína |
Função biológica |
|
Colagénio |
Tecido conectivo fibroso
(tendões, cartilagem, osso) |
|
Elastina |
Tecido conectivo elástico (ligamentos) |
|
Queratina |
Cabelo, pele, unhas |
|
Esclerotina |
Exoesqueleto de insectos |
|
Fibroína |
Teia de aranha |
|
Miosina |
Filamentos espessos em microfibrilas |
|
Actina |
Filamentos finos em
microfibrilas |
|
Hemoglobina |
Transporte de oxigénio no sangue |
|
Mioglobina |
Transporte de oxigénio nas
células musculares |
|
Albumina do sérum |
Transporte de ácidos gordos no sangue |
|
Ovalbumina |
Clara do ovo |
|
Caseína |
Proteína do leite |
|
Ferritina |
Armazena ferro no baço |
|
Gliadina |
Proteína da semente de trigo |
|
ADN polimerase (enzima) |
Replicação e reparação do ADN |
|
Galactosidase (enzima) |
Quebra de ligações glicosídicas da
galactose |
Os
polissacarídos
são cadeias de açúcares ligados entre si por ligações glicosídicas.
Polissacarídeos
lineares tendem a assumir papéis estruturais, como é o caso da celulose
e xilanas, presentes nas plantas,
carragenanos
e alginatos, encontrados nas algas, e a quitina, constituinte da
carapaça de crustáceos.
Já a amilopectina e o
glicogénio são polissacarídeos ramificados que servem de armazém
energético nas plantas e animais,
respectivamente.
Os ácidos nucleicos
são cadeias de nucleótidos e incluem o ácido desoxirribonuicleico, ADN,
e o ácido ribonucleico, ARN. Enquanto o ADN funciona como a “biblioteca”
de informação celular, contendo todas as intruções necessárias à
formação e manutenção de novas células, o ARN é um agente intermediário
que estabelece a comunicação
entre o
ADN e diversas enzimas para sintetizar novas proteínas.
Existem ainda
biopolímeros, tal como a lenhina (componente da madeira), a borracha
natural e os polihidroxialcanoatos de origem bacteriana que não se
enquadram quimicamente nas classes anteriormente apresentadas.
Características dos
biopolímeros v.s. polímeros artificiais
Os biopolímeros têm,
na maioria dos casos, uma estrutura química bem definida e constante, já
que são sintetizados in vivo através de processos precisamente
controlados pela informação genética e levados a cabo por enzimas.
Alguns biopolímeros, como as proteínas, formam estruturas
tridimensionais bastante complexas e essenciais à sua função. Já os
polímeros artificiais (ou sintéticos)
apresentam
estruturas mais aleatórias e menos complexas.
As condições de
síntese de biopolímeros são bastante amenas: ocorrem à temperatura
ambiente e pressão atmosférica, em meio aquoso. Já a síntese de
polímeros artificiais requer, muitas vezes, condições de elevada
temperatura e pressão e o uso de solventes orgânicos.
Todos os biopolímeros
são biodegradáveis, isto é, susceptíveis de serem degradados por
actividade biológica. Já os polímeros artificiais não são, na maioria
dos casos, biodegradáveis. Excepções a esta regra incluem os poliésteres
alifáticos e as poliestereamidas.
Aplicações
comerciais dos biopolímeros
Os biopolímeros
encontram diversas aplicações no mercado, incluindo a indústria
alimentar, medicina,
farmácia,
produção de papel, adesivos, tintas e pigmentos, embalagens, construção,
etc.
Ultimamente, dada a
escassez de recursos petrolíferos e o agravamento das condições
ambientais, tem havido um enorme interesse em utilizar biopolímeros como
fonte de novos materiais. Salienta-se, a título de exemplo, o uso de
fibras celulósicas como reforço em materiais compósitos e o uso de amido
termoplástico (material moldável resultante da extrusão do amido a
elevada tempertaura) no fabrico de novas embalagens
biodegradáveis.
Também na medicina os
biopolímeros têm dado cartas recentemente, revelando-se como componentes
ideais
para
implantes, membranas, hidrogéis e substratos para medicamentos.
Saber mais:
MacNaught,
A.D., Wilkinson, A.R., ed., Compendium
of Chemical Terminology: IUPAC Recommendations (the "Gold Book"). 2nd
ed., 1997: Blackwell Science.
Vert,
M., et al., 2012, Terminology for biorelated polymers
and applications (IUPAC Recommendations 2012). Pure Appl. Chemistry,
84(2):p. 377-410.
Williams,
P.A., ed., Renewable Resources for Functional Polymers and
Biomaterials. 2011: RSC Publishing.
|
Procure outros termos na nossa enciclopédia
|
|
|