A IDENTIDADE, COMO
OBJETO DE ESTUDO
DE DIVERSOS GRUPOS SOCIAIS
Kelly Souza do Nascimento
A identidade é um
conceito do qual faz parte de distinção. De uma
marca de diferença entre pessoas, a começar pelo
nome, seguido de todas as características
físicas do modo de agir e de pensar e da
história pessoal.[2]
Aspectos de nossas identidades surgem do nosso
“pertencimento” a culturas étnicas, raciais,
lingüísticas, religiosas e, acima de tudo,
nacionais, são conhecidas como identidades
culturais.[3]
Ela, entretanto é um instrumento que permite
pensar a articulação do psicológico e do social
em um individuo. A identidade social de um
indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas
vinculações em um sistema social, isto é, esta
está vinculada a uma classe sexual, a uma classe
de idade, a uma classe social, a uma classe
cultural, a uma nação et coetera. A mesma
permite que o indivíduo localize-se em um
sistema social e que este seja localizado
socialmente. Esta, sobretudo não diz respeito
somente a aos indivíduos, pois todo grupo é
dotado de uma identidade que corresponde à sua
definição social, definição esta que permite
situá-lo no conjunto social, ela é ao mesmo
tempo a inclusão e exclusão de um grupo.
[4]
No entanto devemos
considerar que a identidade é construída a
partir da própria sociedade, sendo esta
caracterizada pela multiplicação das
referencias, emergindo de uma pluralidade de
movimentos que procuram salientar questões e
lutas em prol das minorias étnicas, regionais e
religiosas.
No caso dos
cristão-novos este conceito se enquadra na
religiosidade dos mesmos, assim como no
conhecimento de uma memória herdada (passado não
vivido), onde o individuo obtém informações do
que significa ser um judeu, criando assim uma
identidade.
Contudo o judeu
pode ainda utilizar-se de uma estratégia
identitária, onde ele assume uma nova
identidade, neste caso ele passa a ser um
cristão-novo. Eles foram obrigados a deixar as
suas crenças, ou seja, deixar de lado a crença
na Lei de Moisés, para a partir de então
acreditarem e viverem segundo a Lei de Cristo.[5]
Contudo ele assume
essa nova identidade como uma estratégia, para
que possa se livrar da inquisição e ter a
oportunidade de ir para um novo continente a fim
de poder ter uma nova vida, longe de
perseguições e massacres. Porém ele não se
desfaz de sua cultura por completo. Ele dentro
de seu “eu” interior, continua acreditando na
sua religião e dentro de sua casa manifesta
alguns costumes. Costumes estes que são passados
muita das vezes pelas mulheres da família. Isto
é, os filhos desses novos convertidos, nasciam
dentro dessa mistura de identidades. Ou seja,
entre o judaísmo e o catolicismo. Para que os
membros da família, não deixassem morrer os
costumes judaicos, as mulheres ficam com esta
função.
No livro de Anita
Novinsky, A inquisição na Bahia ela relata sobre
o conceito do “homem dividido”, onde demonstra
claramente esta “ambigüidade” de crença.
O conceito de
identidade pode ser compreendido através de
outra vertente anteriormente citada, que
chamamos de “identidade cultural”. Esta, no
entanto é considerada como um conjunto vivo de
relações sociais e patrimônios simbólicos
historicamente compartilhados que estabelece a
comunhão de certos valores entre os membros de
uma sociedade. Ou seja, todo o conjunto de
conhecimentos e modos de agir e pensar dá origem
à cultura, toda sociedade tem a sua, pois não há
uma sociedade sem cultura, independente do
lugar. Então muitos atrevem-se a dizer que a
identidade cultural é considerada um conceito de
trânsito intenso.[6]
A identidade
cultural tem o poder de caracterizar as pessoas
pelo modo de agir, de falar, isto é, como se as
“rotulasse” a partir dos modos específicos de
sua cultura. Esta última, no entanto é
considerada como fruto da miscigenação de
diferentes povos que introduziram seus hábitos e
costumes, com o contato de uma cultura e outra,
pode gerar uma cultura ainda mais diferente.
Como foi o caso dos cristãos-novos citados
acima.
A identidade
cultural pode ser considerada como a engrenagem
que move o motor dos sentimentos, valores,
folclore e uma infinidade de questões que são
embebedados nas mais diferentes sociedades do
mundo, e que apresentam o reflexo da convivência
humana.[7]
Ela também pode ser vista como uma forma de
identidade coletiva característica de um grupo
social que partilha as mesas atitudes, muito
embora esteja apoiada num passado como um
coletivo projetado. Isto é esta fixa-se como uma
construção social estabelecida e faz os
indivíduos sentirem-se mais próximos e
semelhantes.
Nestor Garcia
Canclini[8]
destaca em suas pesquisas e escritos a
preocupação em analisar as variadas situações
onde mostra que a cultura e as identidades não
podem ser pensadas como um patrimônio a ser
preservado, entretanto ele assinala que o
intercâmbio e a modificação são caminhos que
orientam a formulação e a construção das
identidades.[9]
O autor conceituou
ainda a cultura como um processo em constante
transformação, diferenciando-se da tradicional
visão patrimonialista, adotando uma postura de
mobilidade e ação.
A identidade, no
entanto pode ser entendida como a compreensão
que uma pessoa tem de si mesma como
simultaneamente sendo um indivíduo e um membro
de um grupo social; as pessoas têm variedades de
“eus” sociais, ou identidades de grupos, porque
estes possuem uma variedade de papéis sociais na
vida; essa colocação faz com que a questão da
identidade seja incluída no estudo dos grupos
sociais e seus relacionamentos, etnicidades e
etnocentrismo, e ainda no conflito intergrupal e
intercultural.
“A identificação
é, pois, um processo de articulação uma
suturação, uma sobre determinação, e não uma
subunção [...] Ela obedece a uma lógica do
mais-que-um. E uma vez que, como num processo, a
identificação opera por meio da différence, ela
envolve um trabalho discursivo, o fechamento e a
marcação de fronteiras simbólicas, a produção de
‘efeitos de fronteiras’. Para consolidar o
processo, ela requer aquilo que é deixado de
fora – o exterior que a constitui”.[10]
“(...) A
identidade é vista como uma condição imanente do
indivíduo, defindo-o de maneira estável e
definitiva. (...) Sendo assim a identidade é
definida com preexistente ao indivíduo”.[11]
No entanto, devemos nos atentar para que é
preciso considerar que a identidade é construída
a partir de dentro da própria sociedade, [...]
Porém deve-se ter
muito cuidado para não confundir a identidade,
“pois ela é marcada através de símbolos, por
exemplo, pelos próprios cigarros que são fumados
em cada lado. Pois existe uma associação entre a
identidade da pessoa e as coisas que uma pessoa
usa. O cigarro funciona, assim, neste caso, como
um significante um importante da diferença e da
identidade e, além disso, como um significante
que é com freqüência associado com a
masculinidade”.[12]
Um bom exemplo
seria o grupo dos indígenas, estes já nascem com
a sua cultura preexistente, pois ao nascerem
continuam nus apenas aquecidos por um tecido que
os envolve, ao contrário do “homem branco”, que
logo ao nascer muitas das vezes já toma o seu
primeiro banho e é logo agasalhado por roupas e
também por um tecido, conhecido por manta.
O indígena, no
entanto é marcado pelo arco, pela flexa, suas
vestes, sua moradia entre outras. Contudo há
indígenas que vivem nas cidades para estudar e
levar o conhecimento externo para sua aldeia.
Quando este passa a viver na cidade tem que agir
como um membro desta sociedade, se vestindo como
eles, morando em casas ou apartamento etc. Então
se conhecêssemos este individuo vivendo desta
maneira, isto é, como um “homem branco” logo não
observaríamos que este trata-se de um indígena e
não um homem branco. É por este motivo que
Kathryn Woodward, nos leva a este paradigma.
A construção da
identidade se faz no interior de contextos
sociais que determinam a posição dos agentes e
por isso mesmo orientam suas representações e
suas escolhas. (...) a construção da identidade
não é uma ilusão, pois é dotada de eficácia
social, produzindo efeitos sociais reais. A
identidade é uma construção que se elabora em
uma relação que opõe um grupo aos outros grupos
com os quais esta em contato. Para Frederik
Barth (1996) esta concepção permite que se possa
passar a alternativa objetivismo/subjetivismo.
Onde deve-se tentar entender o fenômeno da
identidade através da ordem das relações entre
os grupos sociais. No entanto para Barth a
identidade é um modo de categorização utilizado
pelos grupos para organizar suas trocas. “(...)
a identidade se constrói e se reconstrói
constantemente no interior das trocas sociais.
Isso se opõe àquela que vê a identidade como um
tributo original e permanente que não poderia
evoluir”.
Não há identidade
em si, nem mesmo unicamente para si. A
identidade e alteridade são ligadas e estão em
uma relação dialética. A identificação acompanha
a diferenciação. A identidade é sempre a
resultante de um processo de identificação no
interior de uma situação relacional, na medida
também em que ela é relativa, pois pode evoluir
se a situação relacional, na medida também em
que ela é relativa, pois pode evoluir se a
situação relacional mudar, seria talvez
preferível adotar como conceito operatório para
a análise o conceito de “identificação” do que a
“identidade” (Galissot, 1987).
De volta ao caso
dos indígenas, citando novamente aqueles que vão
morar nas cidades, vão à escolas e
universidades, para isso são obrigados a se
vestirem, comerem de maneira do “homem branco”,
isto é usam calça jeans, assistem tv, falam
português etc, absorverem uma cultura que muito
se difere da sua, entretanto não deixam de ser
indígenas. Eles estão como Barth cita acima se
reconstruindo, ou seja, estão se incluindo numa
nova sociedades, porém quando estes voltam a sua
tribo, fazem uso da mesma cultura que seus
conterrâneos. Isto é, voltam a ter a identidade
origem.
Contudo muitos
acreditam que ao viverem esta experiência este
grupo perde a sua identidade. Mas se paramos
para analisar um outro grupo já não vemos desta
maneira isso seria uma espécie de preconceito,
observe o caso seguinte: Um brasileiro vai morar
em Paris, lá come, a típica comida francesa e
usa roupas da moda européia, este, no entanto
deixara de se ser brasileiro?[13]
A resposta unânime seria “não”. Porém no
primeiro caso citado muitos poderiam responder
sim e outros responderiam não.
BIBLIOGRAFIAS
CUCHE,
Denis. A noção de cultura nas ciências
sociais / Denys Cuche; tradução de Viviane
Ribeiro. -- 2. ed. – Bauru: EDUSC, 2002. p. 175
– 244
HALL,
Stuart. A Identidade cultural na
pós-modernidade / Stuart Hall; tradução
Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 10
ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
LUCENA,
Célia Toledo; GUSMÃO, Neusa Maria Mendes; orgs.
Discutindo Identidades / Célia Toledo
Lucena; Neusa Maria Mendes de Gusmão orgs. e
apres. São Paulo: Humanitas / CERU, 2006 278p.;
22 cm.
SILVA,
Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a
perspectiva dos estudod culturais /
Tomaz Tadeu da Silva (irg.) Stuart Hall, Kathryn
Woodward. 7 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
--------------------------------
[1] Pós Graduada em História do
Brasil pela Universidade Federal
Fluminense. (UFF) e Professora de
História.
[2] Revista Nova Escola, edição 164
de agosto de 2008.
[3] HALL, Stuart. A Identidade
cultural na pós-modernidade 10 ed. – Rio
de Janeiro: DP&A, 2005. p. 5
[4] SILVA, Tomaz Tadeu da.
Identidade e diferença: A perspectiva do
Estudos culturais. 7ª ed. Editora Vozes,
2007. p. 16
[5] Para isso estes eram batizados.
[6]
<http://www.mundoeducação.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm>.
Em 28/04/2009.
[7] <http://www.
alunosonline.com.br/sociologia/identidade-cultural>
. Em 01/05/2009
[9]
<http://www.mundoeducação.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm>.
Em 28/04/2009
[11] CUCHE, Denis. A noção de
cultura nas ciências sociais / Denys
Cuche; tradução de Viviane Ribeiro. --
2. ed. – Bauru: EDUSC, 2002. p. 175 –
244
[12] SILVA, Tomaz Tadeu da.
Identidade e diferença: a perspectiva
dos estudos culturais/ Tomaz Tadeu da
Silva(org.).Sturat Hall, Kathryn
Woodward. 7. ed. – Petrópolis, RJ:
Vozes, 2007. p. 9-10.
[13] Ideação retirada da revista
Nova Escola, do mês de abril de 2009, n°
221.
|
|