Uma Nova Atitude
dos Empresários
Em conversa com vários
empresários da região de Viseu, estes
queixavam-se da falta de sentido de nação, na
medida em que poucas pessoas valorizam o que é
português, o que é nacional, para além do
omnipresente futebol. Falaram das dificuldades
em competir com os produtos espanhóis e outros
de várias proveniências, principalmente da
China, quer em termos de preço, quer em termos
de prazos de entrega e mesmo de qualidade,
produtos que extravasam as suas fronteiras de
origem servidos por uma eficiente distribuição.
Lendo Mia Couto, na sua Oração
de Sapiência na abertura do ano lectivo de
2005 no ISCTEM, em Maputo, Moçambique, achei que
dois parágrafos, de entre outros, se aplicam
perfeitamente à realidade em que vivemos:
“A pergunta crucial é esta: o que
é que nos separa desse futuro que todos
queremos? (…) Essa coisa tem um nome: é uma
nova atitude. Se não mudarmos de atitude não
conquistaremos uma condição melhor. Poderemos
ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas,
mas não seremos construtores de futuro.
(...) Há muito que venho
defendendo que o maior factor de atraso (…) não
se localiza na economia mas na incapacidade de
gerarmos um pensamento produtivo, ousado e
inovador. Um pensamento que não resulte da
repetição de lugares comuns, de fórmulas e de
receitas já pensadas pelos outros.”
Estas palavras fazem-me relembrar
o empreendimento dos Descobrimentos, onde foi
necessário um desígnio, uma motivação,
organização, concentração de recursos e
principalmente trabalho árduo, levando-me a
pensar no seguinte: porque não se aprende com a
própria História de Portugal? Não chega só
enaltecer os feitos dos antepassados ou chorar
os impérios perdidos, há que estudar, analisar e
aprender das lições da história.
Tais feitos só foram possíveis
porque existiu Visão, Estratégia, Liderança,
Organização e Focalização em Objectivos. Só foi
possível porque se uniram esforços num desígnio
comum, nacional. Só foi possível porque se foram
buscar os recursos humanos mais qualificados e
competentes. Só foi possível porque os
empreendedores e líderes do passado se
concentraram em dois aspectos centrais para o
sucesso: Eficiência e
Eficácia.
Esta linguagem não é comum às
empresas? Ora, quantas se prepararam para o
período das “vacas magras”, fazendo-me lembrar a
história da formiga e da cigarra…? Quantas
investiram ou investem deveras em eficiência
organizacional? Em metodologias de melhoria
contínua, em assistência técnica que promova uma
mudança organizacional? Em união de esforços
para ganhar dimensão, ultrapassando o seu
individualismo feroz? Não será mais lógico que,
sendo os nossos recursos parcos, deveremos ser
capazes de os utilizar da melhor forma possível?
Será que se pretende manter o discurso
miserabilista e a eterna subsídio – dependência?
Retomo o desafio que lancei em
artigos anteriores. Há que inovar, em ideias e
métodos, há que investir em marcas, há que
investir em formação e assistência técnica, em
associações complementares de empresas,
utilizando os nossos recursos de forma cuidada e
ponderada, sem o que não se poderá garantir a
sustentabilidade e perenidade das empresas da
região.
Poderão parecer muitas perguntas
e poucas respostas, mas enquadrando as minhas
palavras com mais um excerto do texto de Mia
Couto, penso que alguma clarificação surgirá:
“A minha mensagem é simples: mais
do que uma geração tecnicamente capaz, nós
necessitamos de uma geração capaz de questionar
a técnica. Uma juventude capaz de repensar o
país e o mundo. Mais do que gente preparada para
dar respostas, necessitamos de capacidade para
fazer perguntas (…) A bússola dos outros não
serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos
de inventar os nossos próprios pontos cardeais.
Interessa-nos um passado que não esteja
carregado de preconceitos, interessa-nos um
futuro que não nos venha desenhado como uma
receita financeira.”
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