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Título: Uma Nova Atitude dos Empresários

Secção/Sub-Secção: Ciências Económicas e Empresariais / Gestão

Autor(es): Pinto Lobo, Consultor de Gestão

Data de Publicação: 04 de Outubro de 2010

Resumo: Em conversa com vários empresários da região de Viseu, estes queixavam-se da falta de sentido de nação, na medida em que poucas pessoas valorizam o que é português, o que é nacional, para além do omnipresente futebol. Falaram das dificuldades em competir com os produtos espanhóis e outros de várias proveniências, principalmente da China, quer em termos de preço, quer em termos de prazos de entrega e mesmo de qualidade, produtos que extravasam as suas fronteiras de origem servidos por uma eficiente distribuição.

Palavras Chave: desenvolvimento económico, nova atitude

Uma Nova Atitude dos Empresários

 

Em conversa com vários empresários da região de Viseu, estes queixavam-se da falta de sentido de nação, na medida em que poucas pessoas valorizam o que é português, o que é nacional, para além do omnipresente futebol. Falaram das dificuldades em competir com os produtos espanhóis e outros de várias proveniências, principalmente da China, quer em termos de preço, quer em termos de prazos de entrega e mesmo de qualidade, produtos que extravasam as suas fronteiras de origem servidos por uma eficiente distribuição.

 

Lendo Mia Couto, na sua Oração de Sapiência na abertura do ano lectivo de 2005 no ISCTEM, em Maputo, Moçambique, achei que dois parágrafos, de entre outros, se aplicam perfeitamente à realidade em que vivemos:

 

“A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? (…) Essa coisa tem um nome: é uma nova atitude. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor. Poderemos ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas, mas não seremos construtores de futuro.

 

(...) Há muito que venho defendendo que o maior factor de atraso (…) não se localiza na economia mas na incapacidade de gerarmos um pensamento produtivo, ousado e inovador. Um pensamento que não resulte da repetição de lugares comuns, de fórmulas e de receitas já pensadas pelos outros.”

 

Estas palavras fazem-me relembrar o empreendimento dos Descobrimentos, onde foi necessário um desígnio, uma motivação, organização, concentração de recursos e principalmente trabalho árduo, levando-me a pensar no seguinte: porque não se aprende com a própria História de Portugal? Não chega só enaltecer os feitos dos antepassados ou chorar os impérios perdidos, há que estudar, analisar e aprender das lições da história.

 

Tais feitos só foram possíveis porque existiu Visão, Estratégia, Liderança, Organização e Focalização em Objectivos. Só foi possível porque se uniram esforços num desígnio comum, nacional. Só foi possível porque se foram buscar os recursos humanos mais qualificados e competentes. Só foi possível porque os empreendedores e líderes do passado se concentraram em dois aspectos centrais para o sucesso: Eficiência e Eficácia.

 

Esta linguagem não é comum às empresas? Ora, quantas se prepararam para o período das “vacas magras”, fazendo-me lembrar a história da formiga e da cigarra…? Quantas investiram ou investem deveras em eficiência organizacional? Em metodologias de melhoria contínua, em assistência técnica que promova uma mudança organizacional? Em união de esforços para ganhar dimensão, ultrapassando o seu individualismo feroz? Não será mais lógico que, sendo os nossos recursos parcos, deveremos ser capazes de os utilizar da melhor forma possível? Será que se pretende manter o discurso miserabilista e a eterna subsídio – dependência?

 

Retomo o desafio que lancei em artigos anteriores. Há que inovar, em ideias e métodos, há que investir em marcas, há que investir em formação e assistência técnica, em associações complementares de empresas, utilizando os nossos recursos de forma cuidada e ponderada, sem o que não se poderá garantir a sustentabilidade e perenidade das empresas da região.

 

Poderão parecer muitas perguntas e poucas respostas, mas enquadrando as minhas palavras com mais um excerto do texto de Mia Couto, penso que alguma clarificação surgirá:

 

“A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas (…) A bússola dos outros não serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de preconceitos, interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como uma receita financeira.”